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    Na Cultura, André Sturm quer ampliar gestão por OSs e parcerias privadas

    GABRIELA SÁ PESSOA
    DE SÃO PAULO

    29/11/2016 02h00 - Atualizado às 12h27
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    Anunciado novo secretário municipal de Cultura de São Paulo na quinta (24), o empresário e cineasta André Sturm já recebeu três orientações básicas do prefeito eleito, João Doria (PSDB).

    Ele deve priorizar as periferias, buscar patrocínio na iniciativa privada e estimular parcerias na administração com as OSs (organizações sociais), como a que gere o MIS (Museu da Imagem e do Som), que dirige desde 2011.

    Marcus Leoni/Folhapress
    André Sturm, novo secretário municipal de Cultura, nos jardins do Museu da Imagem e do Som
    André Sturm, novo secretário municipal de Cultura, nos jardins do Museu da Imagem e do Som

    Sturm falou à Folha na sexta (25), na sede do museu. Na entrevista, contou que já se licenciou do Sindicato da Indústria do Audiovisual de São Paulo e prepara a sua saída do MIS, instituição estadual.

    Ele disse ainda que continuará responsável pela programação do Cine Belas Artes, mas se afastará da operação da Pandora e encerrará os contratos da distribuidora, da qual é sócio, com a Spcine, empresa municipal de fomento ao audiovisual.

    *

    Folha - Como Doria o convidou?
    André Sturm - Doria me ligou na quinta [17 de novembro]: "Quero falar com você no sábado [19]". Ele me recebeu no escritório dele, sozinho. Disse que tinha uma série de projetos e que eu sabia que ele tinha convidado outra pessoa primeiro, mas tinha ouvido o meu nome de todos para quem perguntou sobre quem podia ser secretário. Eu o conhecia como um homem de televisão, nunca tinha conversado com ele –foi um convite porque ele acredita no meu trabalho. Ninguém foi meu padrinho.

    Pode-se dizer que o seu perfil é técnico, o senhor não é filiado a nenhum partido. Agora, precisará entrar em disputas políticas com o Legislativo –por exemplo, a briga pelo orçamento. O que espera?
    Nunca fui de partido, mas tenho enorme experiência com o Legislativo. Sou –aliás, era, me demiti nesta semana– presidente do Sindicato da Indústria do Audiovisual. Nos últimos 20 anos, estive relacionado a todas as disputas importantes do setor. Muitos deputados trabalham de maneira interessada –quando você argumenta, eles escutam.

    Votou no Doria?
    O voto é secreto [risos].

    O que se pode esperar da administração Doria para a Cultura?
    Ele não me apresentou projetos fechados, mas uma linha geral da importância de olhar para a cultura na periferia e para os equipamentos que a secretaria tem lá.

    Tenho falado das bibliotecas –quero transformar as 53 bibliotecas em mini-MIS, comparando modestamente. Ou seja, lugares que as pessoas vão começar a falar "vamos na biblioteca?" no fim de semana. Não só para pegar livros, mas porque é legal e vai ter atividades culturais. Claro, terá estímulo à leitura, mas se faço isso só levo quem já tem interesse em livro.

    Hoje, o MIS é um lugar ao qual as pessoas vêm, independentemente do que tem. É o que quero criar na cidade.

    Ele falou das ideias de maneira geral e me deu autonomia para chamar a minha equipe. Convidei duas pessoas [secretário-adjunto e o executivo], superligadas à cultura, sem nenhuma vinculação partidária. Elas já estão avisadas e já foram aprovadas.

    Quem são?
    O prefeito pede para não divulgar, ele quer anunciar todos os adjuntos.

    Na campanha, Doria falou de parcerias com a iniciativa privada. Conversaram sobre isso?
    A gente teve só uma conversa. Mas tem duas coisas de que falamos superficialmente: uma, buscar patrocínios. É fundamental criar parcerias com empresas, sejam os patrocínios incentivados ou não.

    Outra é conversar sobre trabalhar com organizações sociais de uma maneira mais atenta e próxima. É um modelo que dá certo e vamos estudar esse mecanismo para bibliotecas e outros centros culturais. Uma das grandes vantagens é que simplifica o trabalho e permite o patrocínio direto, pois a OS pode captar. Quando o dinheiro entra pela prefeitura, sempre tem complicadores.

    O Theatro Municipal, que é gerido por uma OS, passa por um escândalo de corrupção e tem um rombo milionário.
    O problema não é a OS, mas uma pessoa, que tem nome e sobrenome, e cometeu atos de gravidade total

    Refere-se a José Luís Herencia, ex-diretor da instituição?
    Não quero citar nomes.

    O que pode ter acontecido é que foi o primeiro contrato [da prefeitura] com OS. A própria Secretaria de Cultura não tinha esse hábito. Acho que não souberam acompanhar, e o indivíduo mal-intencionado aproveitou.

    O modelo de OS é bacana, e a minha experiencia ajudará [o MIS,do governo do Estado, é administrado pela organização Associação Paço das Artes Francisco Matarazzo Sobrinho].

    Que providências tomarão em relação à crise no Municipal?
    Ainda teremos uma reunião específica para falar dela.

    Quais projetos da atual gestão lhe parecem interessantes e merecem ter continuidade?
    Naturalmente, a Spcine. O prefeito já me disse para tocar, inclusive conversamos sobre quem ficará na presidência.

    Não tem indicação de cortes, "faça isso, faça aquilo". Ele pediu que eu dê andamento ao que achar adequado. Tem um programa que tem um certo tempo e está esvaziado, são os ônibus-biblioteca –acho incrível e precisa ser reforçado. A Virada Cultural, a política do Carnaval de rua –foi incrível o trabalho de organizar e abrir esse espaço.

    Eles [na secretaria] já estão começando [o Carnaval]. Como é um assunto formal, será tratado na transição oficial. Ontem [24] tivemos uma conversa [com a atual gestão] realmente fraterna.

    A periferia, como o senhor disse, deve receber atenção especial da gestão. Os movimentos culturais pedem metade do orçamento da Cultura para a periferia. O que lhe parece?
    É uma demanda que não é que não seja justa, verdadeira e razoável. Não quero discutir periferia contra o centro –se o Balé da Cidade se apresenta na periferia, sai do meu orçamento do centro ou da periferia? Não é por aí. O que faremos é dinamizar a cultura na cidade como um todo, com olhar atento para a periferia.

    Como será a Virada Cultural em sua gestão?
    A Virada é incrível. Uma das instruções do governador Serra, quando eu trabalhava na secretaria de Estado, foi implantá-la no interior. Claro que fazer dez viradas no mesmo dia é diferente [de fazer a da capital], mas tenho treino. É algo a que vou dar atenção muito grande. A única coisa que o prefeito me pediu é fazer Virada nos bairros.

    Não necessariamente no mesmo dia?
    Talvez seja ou não. Vou me debruçar sobre isso ainda, mas daqui a dois meses posso te dizer como será a Virada desta gestão. Tenho que fechar a ideia de como ela será no fim de janeiro, para poder produzir.

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