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    'O Filho Eterno' suaviza tônica reflexiva do livro, diz autor

    GUILHERME GENESTRETI
    DE SÃO PAULO

    02/12/2016 02h24

    "O Filho Eterno", que estreou nesta quinta (1º), se desenrola entre duas Copas: a trágica edição de 1982 e a redenção em 1994. No período, o filme de Paulo Machline se debruça sobre um pai que vê como tragédia nada redentora o fato de seu filho ter nascido com síndrome de Down.

    O longa é baseado no romance homônimo e autobiográfico de Cristovão Tezza.

    Em inusitado papel dramático, Marcos Veras, do grupo Porta dos Fundos, interpreta Beto, escritor fanático por futebol que recebe o diagnóstico do filho no mesmo dia em que o italiano Paolo Rossi lançou três gols sobre o Brasil, em 1982.

    "Queria uma pessoa solar, para que o público não deixasse de torcer por ele", diz o diretor Machline sobre ter escalado Veras. "Já o futebol funciona como metáfora das vitórias e derrotas da vida."

    Tanto no filme quanto no livro, o futebol serve como conexão entre o pai em estado de negação e o seu filho.

    Para Tezza, que disse não ter querido participar do roteiro de pronto, muito do tom reflexivo do livro se perdeu no longa. "O filme manteve em relação ao pai essa dureza, mas deu uma suavizada."

    "Vai cair do cavalo quem achar que é uma adaptação fiel do livro. É uma obra autoral do diretor", afirma o autor, que elogia o fato de o roteiro ter se pautado mais pelo drama do pai do que pela exposição da criança, "que levaria tudo para o piegas".

    TUDO NA CABEÇA

    Segundo Tezza, "O Filho Eterno" é o menos narrativo de seus livros, "passa-se todo na cabeça do pai". "O filme faz uma leitura bem-feita de uma das possibilidades que são abertas pela obra."

    Machline comenta a adaptação: "A perspectiva do livro não funcionaria. Tivemos que trazer elementos que construíssem uma história", diz.

    Assim o que era apenas ruminação do personagem paterno nas páginas se desdobra no filme em conflitos com pessoas que lá não apareciam –como a mãe, interpretada por Débora Falabella.

    Tezza lembra que em 2007, quando o romance autobiográfico foi lançado, não imaginava a acolhida que teria. "Achei que a recepção seria hostil a um tema tão pesado."

    O Filho Eterno
    Cristovão Tezza
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    "O Filho Eterno", porém, foi saudado pela crítica: levou os prêmios Jabuti, Portugal Telecom e São Paulo de Literatura, ganhou traduções e uma versão para os palcos.

    Também foi um dos pontas de lança na onda das autoficções, registro literário que embaralha o autobiográfico e o fictício e que se popularizou na produção brasileira contemporânea. "Parecia que faltava emoção no que se escrevia na época, e o livro chegou na hora certa", diz.

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