O célebre diretor de cinema italiano Bernardo Bertolucci chamou de "equívoco ridículo" a indignação generalizada acerca da cena de sexo com manteiga estrelada pela atriz francesa Maria Schneider no filme "O Último Tango em Paris".
"Queria pela última vez esclarecer o ridículo equívoco que segue cercando 'O Último Tango em Paris' em publicações de todo mundo", escreveu Bertolucci, 76, em um comunicado divulgado em Roma.
"Tenho dito, e talvez não tenha sido suficientemente claro, que decidi não informar Maria do uso da manteiga. Queríamos que ela tivesse uma reação espontânea ao uso impróprio", afirma a nota.
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| O cineasta italiano Bernardo Bertolucci |
"Alguns crêem que ela não estava informada da violência contra ela. Falso. Maria sabia tudo porque havia lido o roteiro, onde tudo estava descrito", disse, referindo-se à cena de sexo anal com a atriz, de então 19 anos, que gerou um grande escândalo nos anos 1970.
"A única novidade a respeito do roteiro foi sobre a ideia de usar a manteiga. Isso foi, segundo soube muitos anos depois, o que ofendeu Maria. Não a violência que ela sofreu em cena e que estava prevista no filme", disse.
"Lamento que existam pessoas ainda tão ingênuas que acreditam que o que você vê no filme ocorre na realidade. Não sabem que no cinema o sexo é (quase) sempre uma ficção e, provavelmente, acreditam que cada vez que John Wayne dispara em seu inimigo, ele realmente cai morto ", concluiu.
A conduta do cineasta incendiou as redes sociais com comentários contra sua atitude perante a atriz, morta em 2011, que trabalhou em seguida em filmes de grandes diretores do século 20, como René Clément, Michelangelo Antonioni, Jacques Rivette e Luigi Comencini.
Coincidindo com o Dia Internacional contra a Violência de Gênero, vários veículos ecoaram as declarações do diretor, reprimindo sua conduta.
Entre as vozes que reagiram à notícia, figuram as de algumas celebridades de Hollywood, como a atriz Jessica Chastain, protagonista de "A Hora Mais Escura", que escreveu em sua conta no Twitter: "A todos que adoram esse filme: estão vendo uma garota de 19 anos sendo estuprada por um homem de 48. O diretor planejou o ataque. Me deixa enjoada".
Antes de morrer, em 2007, Schneider contou à imprensa que essa cena não estava no roteiro e que foi forçada a fazê-la, razão pela qual odiava Bertolucci e o ator Marlon Brando, com quem contracenou.
A atriz entrou em uma espiral de autodestruição, tentou vários suicídios, era viciada em drogas e foi internada em centros psiquiátricos.