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    Curta brasileiro retrata transexual que se mutilou no interior de SP

    GUILHERME GENESTRETI
    DE SÃO PAULO

    08/12/2016 12h00

    Suely apareceu toda ensanguenta em seu vestido de noiva -o mesmo que um dia ela comprou na cidade e que usava para se deitar todas as noites, assim que a "turma toda ia dormir", na zona rural de São Luiz do Paraitinga (SP).

    "Foi um momento de doideira", lembra, 30 anos após o episódio, uma de suas conterrâneas.

    Alta e esquálida, repuxando o cabelo grisalho num rabo de cavalo, Suely nasceu num corpo de homem. De Benedito, o "Bidito" da mão calejada, que era um "trator na roça".

    Divulgação
    Suely em cena do curta 'Roupa de Baixo', de Lara Dezan
    Suely em cena do curta 'Roupa de Baixo', de Lara Dezan

    Hoje, "o corpo da gente é mudado", diz Suely, que rememora o dia em que tentou decepar o pênis com um facão: "A gente se vestiu de noiva e se cortou".

    Sua história é contada em "Roupa de Baixo", curta documental de Lara Dezan que saiu premiado no Festival Mix Brasil de 2015 e que ainda circula por festivais.

    Além de Suely, a equipe do filme entrevistou os que a rodeiam: os antigos parceiros de roça que acham que ela "fez besteira", a mãe idosa que nunca aceitou a transexualidade da filha, a enfermeira que a atendeu logo após o acidente.

    "Comecei a perceber a dificuldade que tinham em tratar Suely como ela, e as diferentes versões que davam para contar sua história", diz a diretora. "Virou um retrato do que é ser uma trans na zona rural de uma cidade pequena."

    O ato extremo de se cortar usando um vestido de noiva surgiu durante as entrevistas, conta Dezan.

    "Foi bem surpreendente. Até um pouco pesado. O que a gente quis foi trazer um pouco esta questão: ela se sentir mulher desde os 12 independentemente de ter nascido no corpo de homem."

    Em seu percurso por festivais, a diretora diz ter sido indagada a respeito de ser uma mulher cisgênero dirigindo um curta sobre uma transexual. "Foi uma questão que me levantaram e que parei para pensar: como é importante haver transexuais dirigindo seus próprios filmes."

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