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    Crítica

    Ambiciosa, nova montagem de 'Fosca' traduz essência da obra

    SIDNEY MOLINA
    CRÍTICO DA FOLHA

    09/12/2016 02h11

    "Pax tibi Marce, evangelista meus" ("Que a paz seja contigo, Marcos, meu evangelista"): o lema da cidade de Veneza ocupa o palco na montagem de "Fosca", de Carlos Gomes (1836-96), em cartaz no Theatro Municipal.

    Assinada por Stefano Poda (direção, cênica, cenografia, figurinos, iluminação e coreografia), a produção é ambiciosa: sua intenção é oferecer uma contribuição real para que a obra seja resgatada para o repertório.

    Célebre com o sucesso de "O Guarani" em Milão, o compositor brasileiro (nasceu em Campinas e morreu em Belém do Pará) estava no auge ao escrevê-la. Estreada em 1873 (também no teatro Alla Scala milanês), "Fosca" não teve a mesma repercussão.

    O enredo narra o embate de nobres venezianos com corsários na Idade Média. Não muito antes do tempo em que se passa a história, os restos mortais do evangelista Marcos haviam sido trasladados de Alexandria a Veneza.

    Divulgação
    Montagem da ópera "Fosca" no Theatro Municipal de São Paulo com direção cênica, cenografia, figurinos, desenho de luz e coreografia assinados por Stefano Poda. A direção musical é de Eduardo Strausser. O Coro Lírico Municipal, sob regência de Bruno Greco Faccio, e o Balé da Cidade de São Paulo participam da encenação. No papel de Fosca se revezam Nadja Michael e Chiara Taigi. Os papeis principais masculinos ficaram a cargo de Marco Vratogna e Leonardo Neiva (Cambro); Luiz-Ottavio Faria e Lukasz Golinski (Gajolo); e Thiago Arancam e Sung Kyu Park (Paolo). FOTO Arthur Costa/Divulgação ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Cena da montagem 'Fosca', ópera de Carlos Gomes, no Theatro Municipal de São Paulo

    No meio de tudo, Fosca, irmã do líder pirata, apaixona-se por Paolo, um nobre aprisionado. A direção de Poda opõe as tensões entre os dois mundos, mas também enfatiza como (paradoxalmente) negociam poder, ambição, crueldade, nobreza e perdão.

    As personagens são mais fortes e delineadas do que em "O Guarani", o que permite ao compositor obter uma unidade compacta do discurso musical. O coro é utilizado com maestria, com alternância de técnicas e gêneros.

    Na estreia na quarta (7) a música foi muito bem realizada pela Sinfônica Municipal e pelo Coro Lírico (minuciosamente preparado por Bruno Facio). Tomara que a orquestra não perca o ótimo maestro Eduardo Strausser, uma revelação da temporada.

    A soprano alemã Nadja Michael (como Fosca) dominou a noite. Potência extraordinária, beleza vocal (com nuances particulares nos diferentes registros), expressiva e precisa cenicamente.

    Estiveram muito bem os brasileiros Thiago Arancam (como Paolo) e Lina Mendes (Delia), além do italiano Marco Vratogna (Cambro). Luiz-Ottavio Faria (Gajolo) cresceu ao longo da récita: é bom ver cantores brasileiros de volta ao Theatro Municipal.

    A última cena começa com um singelo e melancólico solo de viola. Poda posiciona o violista Alexandre de León no palco, em meio às sombras do movimento espectral do Balé da Cidade. Traduz a essência da ópera como espetáculo híbrido e total.

    *

    FOSCA
    QUANDO sáb. (10 e 17), ter. (13), qui. (15) às 20h; dom. (11), às 17h
    ONDE Theatro Municipal de São Paulo, pça. Ramos de Azevedo, tel. (11) 3053-2090
    QUANTO R$ 25 a R$ 160
    CLASSIFICAÇÃO: 12 anos

    Edição impressa

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