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    SXSW mira artistas brasileiros para além da bossa nova e do samba

    AMANDA NOGUEIRA
    DE SÃO PAULO

    09/12/2016 02h26

    O Brasil parece ter parado no tempo, pelo menos aos olhos da indústria musical estrangeira, que ainda enxerga a identidade do país pelo caleidoscópio do samba e da bossa nova –um gênero que surgiu há um século e o outro que persiste há pelo menos 60 anos, respectivamente.

    A observação é de Tracy Mann, que há 16 anos é representante do South by Southwest (SXSW), um dos festivais de música e inovação mais relevantes da atualidade. Além de zelar pela imagem do evento, ela é a responsável por garimpar artistas brasileiros que possam contribuir para o balaio sonoro de cada edição.

    "A criatividade do Brasil é sensacional, fora de série, mas ainda hoje o mundo não a conhece", diz Mann, que participa de um painel com outros porta-vozes do SXSW na Semana Internacional de Música de São Paulo (SIM) nesta sexta-feira (9).

    Mann, que veio ao país pela primeira vez ainda adolescente, em um intercâmbio nos anos 1970, e depois estudou música na Bahia, diz que muita gente tem interesse na cultura local e busca entender o que é a música brasileira atual, mas que "a bossa nova e o samba continuam sendo o que o estrangeiro reconhece como Brasil".

    "Acho interessante ver as novas formas da música brasileira", diz a especialista, citando Liniker. "Ele tem essa coisa de identidade de gênero que interessa muito e já conseguiu um lugar no elenco do SXSW", diz Mann. Além de se apresentar em um pocket show, o artista participará de um painel do evento, feito inédito aos brasileiros.

    Um dos motivos que atrapalham a visibilidade dos artistas brasileiros no exterior, ela conta, é a informalidade da classe profissional da indústria musical local.

    "Ainda falta classe profissional para trabalhar com artistas no Brasil. Tem algumas pessoas maravilhosas, sem dúvidas, mas continua sendo uma indústria mais informal que a nossa, mais de amigos ajudando amigos, essas coisas", explica, incluindo países europeus, como Espanha e Portugal, e latino-americanos na mesma situação.

    Ela aponta que ter um bom empresário –"não da maneira antiga, aquele senhor velho e barrigudo", brinca– é um fator importante para estabelecer negócios e aproveitar feiras como a SXSW ou a SIM para alavancar a carreira do artista. "São profissionais que podem ficar de um lado para o outro, buscando articular a banda com figuras do mercado", diz, acrescentando que no networking, sim, a informalidade é bem-vinda.

    Nesse quesito, Mann cita como exemplos bem-sucedidos as passagens do músico carioca Rogê e da banda potiguar de rock Far From Alaska na feira de Austin, onde já se apresentaram também Lenine, Bonde do Rolê e Curumin.

    "O empresário da Far From Alaska marcou uma turnê com início no SXSW já para dar um pique no trabalho que vinha fazer aqui", conta. A banda foi contratada por uma gravadora americana e vai gravar o próximo álbum por lá. "Já a empresária do Rogê fez amizade com o [presidente da Sire Records] Seymour Stein, que descobriu a Madonna. Depois disso, ele fez o tema da Olimpíada", diz.

    Mann cita uma última dificuldade para a "exportação" dos talentos brasileiros: o público consolidado no próprio berço. "O Brasil é um país grande, então os músicos não sentem a necessidade de criar um mercado fora", diz.

    Esse fator, somado ao formato do festival –que não paga cachês e lucra basicamente com a venda das credenciais– dificulta o convite a famosos, conta ela.

    "Passei anos tentando trazer Maria Gadú e a Maria Rita", exemplifica. "Os artistas têm uma carreira consolidada no Brasil e na Europa, onde conseguem cachês pagos pelo Estado. Aqui nós não temos, e competir com o capitalismo é muito difícil [risos]."

    *

    SEMANA INTERNACIONAL DE MÚSICA DE SÃO PAULO
    QUANDO até dom. (11)
    ONDE diversos locais; programação em simsaopaulo.com
    QUANTO R$ 350 (credencial; há atrações avulsas)

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