Kirk Douglas sabe fazer uma entrada triunfal. Num salão com luvas de boxe decorando as mesas e o tema de "Rocky" tocando nos alto-falantes, o ator, um dos últimos remanescentes da era de ouro de Hollywood, entrou no salão Sunset do Beverly Hills Hotel na tarde de sexta para celebrar seu aniversário de cem anos numa reunião de parentes e amigos.

Ao lado de Anne Douglas, sua mulher há 62 anos, seu filho Michael Douglas, sua nora Catherine Zeta-Jones e seus netos, Kirk Douglas olhou para os cerca de 150 convidados, entre eles Don Rickles, Jeffrey Katzenberg, seu rabino e muitos de seus amigos mais íntimos e sorriu.

Não só estava rodeado de rostos conhecidos, ele teria o direito, como prometeu seu médico anos atrás, de tomar um copo de vodca caso chegasse aos cem anos de idade. Mas antes que a bebida fosse apresentada numa exagerada taça de martini, Kirk Douglas ouviu declarações de amigos enquanto trechos de seus filmes clássicos, como "Spartacus", "Sede de Viver" e "Glória Feita de Sangue", eram exibidos numa tela atrás dele.

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	O ator Kirk Douglas em cena de "Glória Feita de Sangue" (1957) de Stanley Kubrick

Michael Douglas deu início às falas, dizendo que não era uma questão de celebrar sua idade, mas tudo que ele fez. "Uma das coisas mais incríveis sobre meu pai é o terceiro ato de sua vida", disse. "Depois de tudo que ele conquistou em sua carreira profissional e tudo que deu para este país, num momento de adversidade, enfrentando a perda de um filho, um acidente de helicóptero e um derrame, acho extraordinário o que ele pôde fazer."

Kirk Douglas falou pouco. "Não sei do que ele está falando. Ele disse coisas bonitas sobre alguém que não conheço", disse, brincando que Michael Douglas foi escolhido para organizar a festa porque é o que tem mais dinheiro. Ele também agradeceu a todos pela presença e se emocionou ao ver quase toda a família reunida.

Zeta-Jones então acendeu as 12 velas no bolo. "Que bom que não são cem", ela exclamou, antes de puxar o coro dos parabéns, que foi acompanhado por um quarteto de cordas. Era só o começo da tarde, que teve ainda comentários de alguns de seus sete netos, seu rabino e seu médico.

As mesas do evento não estavam numeradas. Eram identificadas por nomes dos filmes de Kirk Douglas. O aniversariante se sentou na mesa "Sua Última Façanha", seu filme favorito.

Num canto, a atriz e dançarina Neile Adams, que foi a primeira mulher de Steve McQueen, relembrava as travessuras de Kirk Douglas. "O Kirk era terrível quando jovem! Você não podia se sentar ao lado dele sem sentir suas mãos apalpando sua coxa. Quando o Steve saía da sala, ele se jogava em cima de mim", disse, gargalhando. "Mas ele era fofo."

Ela também lembrou sua força quando, alguns anos atrás, o ator operou os dois joelhos. Michael Douglas sugeriu então que era melhor operar só um e usar uma cadeira de rodas. Kirk Douglas, no entanto, rejeitou a ideia. "Você nunca verá Spartacus numa cadeira de rodas", dizia Adams, relembrando uma frase do ator.

Steven Spielberg chegou atrasado e de muletas após quebrar o pé durante uma filmagem recente. "Queria vir aqui e dizer que venho fazendo filmes e programas de televisão há 47 anos e já trabalhei com os melhores, mas você é a única estrela de cinema que já conheci", disse ele ao ator. "Você tem algo que ninguém tem. Quando você vê Kirk atuando em qualquer coisa, não consegue tirar os olhos dele. Você é um homem milagroso."