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    Autora enche linguiça em romance policial meio pós-modernista

    RICARDO BONALUME NETO
    DE SÃO PAULO

    12/12/2016 02h10

    Zanone Fraissat/Folhapress
    PARATY/RJ BRASIL. 05/07/2015 - Sophie Hannah participa da mesa De frente para o crime com mediacao de Joao Gabriel de Lima e participacao de Leonardo Padura no ultimo dia da FLIP, Feira Literária de Paraty.(foto: Zanone Fraissat/FOLHAPRESS, ILUSTRADA)***EXCLUSIVO***
    Sophie Hannah, autora de "A Outra Casa", durante sua participação na Flip 2015

    Este é um livro estranho. Mais da metade das páginas passa sem que o leitor saiba se houve de fato um crime real

    Romances policiais são como novelas ou séries de TV –ou você ama ou detesta. É raro o meio termo. Sem contar que muitas séries de TV são sobre crimes, procedimento policial, investigação, ciência forense. Logo, um escritor dedicado a esses romances cria fãs ou "antifãs".

    A finada britânica Agatha Christie (1890-1976) é um dos melhores exemplos.

    Vendeu perto de 2 bilhões de livros; mas existe quem não tolere seus detetives amadores –um belga excêntrico, Hercule Poirot, uma velhinha solteirona inglesa, Miss Maple– pela fuga da realidade que representam.

    Outra escritora britânica de romances policiais, Sophie Hannah, foi convidada pela família de Christie para retomar livros com seus personagens. Foi elogiada.

    Hannah tem personagens próprios menos exóticos –seus detetives, como o principal personagem, Simon Waterhouse, são profissionais da polícia do Reino Unido.

    "A Outra Casa", de 2011, é considerado um dos melhores livros de Hannah –que, assim como Christie, é romancista e poeta.

    Este é um livro estranho, infectado por pós-modernismo e pelo romance psicológico. Mais da metade das páginas passa sem que o leitor saiba se houve de fato um crime real, pois não foi achado nem corpo, nem criminoso, nem arma, quem dirá motivo.

    O livro inclui trechos na primeira e na terceira pessoa.

    A principal narradora, Connie Bowskill, é irritantemente histérica (ela própria admite) e paranoica. Ela navega na internet em um site de casas à venda em Cambridge e topa com a foto de uma mulher morta e muito sangue. Mas, ao tentar mostrá-la a seu marido, Kit, a imagem já tinha sido retirada da rede.

    Connie surta, e o surto acaba incrementado pela sua família controladora e pela sua própria personalidade. Ela acha que Kit a está traindo, vivendo vidas paralelas.

    Connie contata o "brilhante" detetive Simon Waterhouse, mas ele saiu em lua de mel com a mulher –que é também policial, Charlie Zailer.

    Deveriam ser personagens simpáticos, ou, mesmo que fossem irascíveis –como Andy Dalziel, do britânico Reginald Hill, ou Nero Wolfe, do americano Rex Stout–, poderiam ter charme. Mas não. Simon e Charlie são meramente dois chatos sem graça.

    A Outra Casa
    Sophie Hannah
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    O leitor termina tendo que ler um livro longo e tortuoso –a autora enche muita linguiça–, pois a curiosidade de saber o final é grande.

    O teste supremo para uma série de livros com o mesmo protagonista –como as obras de Conan Doyle com Sherlock Holmes, ou os citados Hill e Stout acima– é simples: você leria outro livro da série?

    Este resenhista leu todos os disponíveis de Doyle, Hill e Stout. E não planeja ler mais nenhum de Sophie Hannah.

    *

    A OUTRA CASA
    AUTORA Sophie Hannah
    TRADUÇÃO Alexandre Martins
    EDITORA Rocco
    QUANTO: R$ 25,50 (464 págs.)

    Edição impressa

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