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    Cartunista Laerte mistura nus e HQs antigas no livro 'Modelo Vivo'

    BRUNO MOLINERO
    DE SÃO PAULO

    13/12/2016 02h30

    Laerte está cansada. "Cada vez sinto menos prazer e mais dificuldade na hora de desenhar. Talvez a idade, na forma de um cansaço acumulado, venha me trazendo uma impaciência que eu não tinha antes. É um esgotamento de já saber que determinado projeto vai demandar uma energia minha que talvez eu não tenha mais", diz.

    Aos 65 anos, com mais de 45 deles dedicados a ilustrações, charges e tirinhas, Laerte só encontra uma trégua para esse cansaço em uma atividade artística específica, cultivada desde os anos 1960, quando ainda dava as primeiras canetadas: desenhar corpos nus a partir de oficinas de modelo vivo.

    "É algo que me renova, porque o modelo é gente como a gente. É mais um exercício, não uma ideia para transformar em livro." Mas virou. Alguns dos desenhos criados a partir de oficinas ministradas com seu filho Rafael Coutinho em 2013 foram reunidas em "Modelo Vivo", livro que mescla as ilustrações com histórias antigas e pouco lembradas da artista –além de uma HQ inédita, feita no início dos anos 2000.

    Divulgação
    Desenho do livro, feito por Laerte em oficina de modelo vivo
    Desenho do livro, feito por Laerte em oficina de modelo vivo

    Entre as republicações, há, por exemplo, a terceira e última história dos Palhaços Mudos, publicada originalmente em 1994 e que marcou a carreira de Laerte.

    Tanto que a primeira aventura dos três palhaços, trabalhadores circenses que não se encaixam no mundo, inspirou a peça "A Noite dos Palhaços Mudos", da companhia La Mínima, que rendeu prêmios ao ator Domingos Montagner, morto neste ano no rio São Francisco por afogamento, no intervalo das gravações da novela "Velho Chico".

    Em comum, todas as histórias e desenhos de "Modelo Vivo" têm o corpo como fio condutor. E mostram que a transformação do ser humano faz parte da obra de Laerte desde pelo menos os anos 1980–30 anos antes de assumir a identidade feminina, transformar o próprio corpo e aparecer como autora.

    Há nas páginas coloridas homens que viram minotauros, casais que trocam de cabeça, pedestres que veem o corpo ganhar as formas metalizadas de motocicletas, grupos que ganham penas de pássaros nos braços.

    "Tem um pouco de acaso nisso. A minha preocupação foi que a gente republicasse coisas que tivessem sido vistas poucas vezes. Lidar com o corpo é uma característica minha, dos meus roteiros, faz tempo. Por isso a sensação de unidade", conta.

    Grande parte das HQs foram publicadas em fanzines e revistas hoje consideradas históricas, como "Chiclete com Banana" e "Circo".

    "Mas vou te contar uma coisa: não reli as histórias do livro. Claro que vi como ficou no final, mas não olhei atentamente. Tenho um certo desconforto em ver coisas que já publiquei. Costumo ficar encontrando problemas, achar que deveria ter feito tudo de outro jeito. Mesmo as tiras da 'Ilustrada'. Costumo olhar só para ver qual saiu. Sim, já levei isso para a terapia."

    MODELO VIVO
    AUTORA Laerte
    EDITORA Barricada
    QUANTO R$ 49 (88 págs.)
    LANÇAMENTO debate entre a autora e Leonardo Sakamoto na quinta (15), em São Paulo (Blooks Livraria do Shopping Frei Caneca; r. Frei Caneca, 569), tel. (11) 3259-2291

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