É por meio do olhar feminino que o Brasil dará as caras no próximo Festival de Berlim, uma das mais prestigiosas mostras de cinema, que irá de 9 a 19 de fevereiro.
As diretoras Daniela Thomas e Julia Murat estão entre os nomes anunciados na manhã de terça (20) cujos filmes participarão da Panorama, seção paralela à competição principal do festival.
Os dois longas trazem, além do olhar feminino, uma presença forte de personagens mulheres nas tramas.
O drama "Vazante", de Daniela Thomas, aborda a feminilidade sob o ponto de vista do abuso, ambientado nas Minas Gerais do século 19.
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Luana Nastas e Adriano Carvalho em cena de 'Vazante' |
A menina Beatriz (papel da estreante Luana Nastas) é dada em casamento a Antonio (vivido pelo ator português Adriano Carvalho). Ela é levada a conviver com os escravos do marido numa fazenda que promete desencadear uma espiral de violência.
"No Brasil até pouco tempo se praticou o casamento forçado de meninas muito jovens", diz Daniela Thomas, que acalentava o projeto há mais de 15 anos. A escravidão é outro dos temas que costuram a trama. "O país ainda não encarou isso que praticou. É algo que me comove."
Para reconstituir a história,ela teve ajuda da historiadora Mary Del Priore (da série de livros "Histórias da Gente Brasileira"). "Ela tem obsessão em saber como teria sido a vida comum dos brasileiros", conta a diretora.
Daniela Thomas também optou por rodar o longa todo em preto e branco. "Não queria que as cores atrapalhassem o fluir da história. E como o preto e branco traz essa associação com o passado, achei que seria legal", diz a cineasta, que filmou num casarão antigo próximo à região do Serro, em Minas.
"Vazante" é seu primeiro longa solo depois de codirigir "Terra Estrangeira", "O Primeiro Dia" e "Linha de Passe" com Walter Salles, e "Insolação", com Felipe Hirsch.
A diretora, que fez parte da direção artística da abertura dos Jogos Olímpicos do Rio, também prepara para breve um segundo filme solo: "O Banquete", passado no contexto da redemocratização.
Também integra a escalação brasileira do Festival de Berlim outro drama: "Pendular", da carioca Julia Murat. O filme gira em torno da relação entre um casal: ele, um escultor; ela, uma dançarina.
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Os atores Raquel Karro e Rodrigo Bolzan formam o casal de 'Pendular', de Julia Murat |
Entre os dois, vividos por Raquel Karro e Rodrigo Bolzan, brota uma tensão que vai se manifestar no espaço que compartilham: as esculturas dele invadem o espaço dela.
"Queria trabalhar com a ideia de pêndulo", diz a diretora. "Tanto o pêndulo da relação amorosa quanto o pêndulo do encontro das artes."
Com carreira sedimentada na edição e assistência de direção, Murat é diretora de "Histórias que Só Existem Quando Lembradas", de 2011.
Ela comenta o fato de que são duas diretoras as brasileiras selecionadas para a Berlinale: "Que seja uma realidade, e não uma campanha".
Dentre os grandes festivais estrangeiros –junto de Cannes e Veneza–, Berlim tem sido o mais receptivo aos brasileiros: já premiou "Tropa de Elite" e "Central do Brasil".
Os filmes da competição principal e da segunda leva da seção Panorama ainda não foram anunciados. "Joaquim", biografia sobre Tiradentes dirigida por Marcelo Gomes, está nesse páreo.