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    Para colegas, Felicity Jones, de 'Rogue One', é estrela sem estrelismos

    DAVE ITZKOFF
    DO "NEW YORK TIMES"

    24/12/2016 12h00

    Um tempo atrás, Felicity Jones andava pelas ruas de Londres quando foi abordada por uma mulher que descreveu como "muito alta e com aparência de modelo", que pediu para fazer uma foto com ela. Atriz indicada ao Oscar, Jones concordou.

    Depois de andar mais uma distância curta, foi abordada por outra transeunte. "Quem era aquela mulher?", a pessoa lhe perguntou.

    Relatando o fato, Jones, que se sentiu minimizada, comenta: "Eu só disse 'não sei, mas ela parece bacana'".

    E acrescenta: "Tenho os pés bem firmes no chão".

    Elizabeth Weinberg/The New York Times
    Felicity Jones, the star of the upcoming âÄúRogue One: A Star Wars Story,âÄ in Los Angeles, Nov. 11, 2016. Jones said the camaraderie that comes from inclusion in the four-decade franchise was an incredible feeling. âÄúIt taps into some kind of deep mythology,âÄ she said. âÄúI donâÄôt think anyone whoâÄôs been a part of it has any critical distance from it. It really takes your heart, it does.âÄ (Elizabeth Weinberg/The New York Times)
    A britânica Felicity Jones, protagonista de 'Rogue One', em Los Angeles

    Isso é o que significa ser Felicity Jones, 33, a atriz e fashionista britânica cuja carreira, pelo menos segundo alguns cálculos, acelerou-se exponencialmente com o sucesso crítico e comercial de "A Teoria de Tudo", filme biográfico sobre Stephen Hawking, lançado em 2014.

    Segundo outras avaliações, incluindo a dela mesma, Jones praticamente não merece ser reconhecida, sendo apenas uma atriz que se esforça muito e cujo currículo inclui alguns favoritos cult modestos ("Loucamente Apaixonados") e alguns trabalhos comerciais feitos com grande orçamento ("Inferno").

    Mas quaisquer reivindicações de obscuridade que ela ainda possa fazer não resistirão por muito tempo após o lançamento de "Rogue One: Uma História Star Wars".

    Nesse que é o capítulo mais recente da épica aventura espacial, Jones é Jyn Erso, a corajosa e improvável líder de um time de combatentes rebeldes encarregados de roubar a planta da Estrela da Morte, a máquina de guerra do Império Galáctico, capaz de aniquilar planetas (como sabem os fãs da série, esses são os acontecimentos que antecederam o filme original, "Guerra nas Estrelas").

    "Rogue One" pode representar uma oportunidade de divulgação maior para Felicity Jones, que não costuma ser vista dando socos ou pilotando naves interestelares em grandes filmes de ação, ou para os criadores da série "Star Wars", que nos filmes recentes da franquia vêm dando mais destaque a mulheres.

    Fiel a seu espírito modesto, Jones minimiza essas possibilidades em um bate-papo por videoconferência a partir do pátio do hotel Bel-Air em Los Angeles. Prefere destacar sua paixão por personagens fortes e com as quais as pessoas possam se identificar.

    "É difícil encontrar um filme independente que tenha uma grande protagonista feminina", diz a atriz. "É difícil encontrar qualquer coisa."

    "Queríamos que o público se identificasse com Jyn como pessoa", explica. "Como todas nós, ela está tentando entender que diabos fazer."

    INCRIVELMENTE NORMAL

    Os cineastas e atores que já trabalharam com Jones ao longo dos anos dizem que isso é típico da atriz, que prefere ficar longe dos holofotes e trabalhar a olhar para o alto e ver para onde suas realizações a estão levando.

    "Quando você conhece Felicity pessoalmente, geralmente é uma surpresa", diz Gareth Edwards, diretor de "Rogue One". "Ela é incrivelmente normal, incrivelmente –digo isso no bom sentido. Nada disso a afetou de modo algum até hoje. É surpreendente."

    O filme que ajudou a chamar a atenção para ela nos EUA foi "Loucamente Apaixonados", de 2011, em que ela e Anton Yelchin eram namorados tentando manter um relacionamento transatlântico.

    Dirigido por Drake Doremus a partir de um esboço longo, e não um roteiro tradicional, "Loucamente Apaixonados" exigiu que Jones inventasse boa parte de seus próprios diálogos, incluindo um poema romântico que sua personagem lê a Yelchin em um momento de ternura que eles compartilham na cama.

    "Houve pessoas que me mandaram fotos daquele poema tatuado em seu corpo", conta Doremus. "É um tributo a Felicity."

    "Loucamente Apaixonados" criou um vínculo ao mesmo tempo feliz e triste entre Jones e Doremus, que se reencontraram após a morte acidental de Yelchin em junho. "Ainda não parece muito real e não faz sentido", diz Doremus. "Ele [Yelchin] está em tudo que fazemos e influencia tudo que fazemos."

    Doremus diz que a impressão duradoura que a atuação de Felicity Jones deixou nele tem a ver com ela ter posto de lado sua reserva e sua discrição pessoais para representar uma personagem tão aberta e vulnerável.

    "O que é bacana na Felicity é que ela não é uma atriz, é uma pessoa", ele diz. "Existe muita gente aí fora que é ator ou atriz em primeiro lugar e pessoa em segundo."

    Manter a separação entre essas esferas de sua vida tornou-se um desafio maior depois de "A Teoria de Tudo", em que Jones fez o papel de Jane Hawking, a (hoje ex) esposa de Stephen Hawking (Eddie Redmayne), que cuidou do cientista quando a doença do neurônio motor o deixou enfraquecido.

    O sucesso do filme, pelo qual Redmayne recebeu um Oscar, e Jones, uma indicação à estatueta, ainda a espanta. A atriz diz que eles abordaram o filme como abordariam um longa independente intimista.

    "Um de meus filmes favoritos é 'Clamor do Sexo'", ela diz, "e procuramos emular aquelas atuações naturalistas, imbuídas de paixão."

    "Quando você ouve as palavras mágicas, ou seja, 'isso funciona!'– você sabe que alguma coisa deu certo."

    LUKE À AVESSAS

    Gareth Edwards, cujos créditos incluem "Monstros" (2010) e o remake de "Godzilla" (2014), diz que "Rogue One" reverte intencionalmente algumas das convenções da trilogia "Star Wars" original e a história de Luke Skywalker.

    "'Guerra nas Estrelas' é a história de um garoto que cresce em um lar tranquilo e sonha em ir para uma guerra", ele comenta. "E se tivermos a história de uma garota que cresce numa guerra e sonha em voltar para a tranquilidade do lar?"

    Com isso em vista, Edwards diz que não procurou "uma atriz de ação no sentido clássico –aquela expectativa convencional de uma soldada ou rebelde".

    "É possível ensinar qualquer pessoa a lutar, desde que os dublês treinem o suficiente", ele diz. "Mas não dá para ensinar alguém a mostrar tanta alma em seu olhar. Sempre que você aponta a câmera para Felicity, há muitas coisas acontecendo dentro dela."

    A escolha de mulheres para os papéis principais de filmes de fantasia como "Rogue One", "O Despertar da Força" e "Caça-Fantasmas" mostrou-se altamente provocativa, atraindo a ira dos poucos fãs frustrados que veem isso como uma concessão à correção política.

    Felicity Jones desvia do assunto, dizendo: "Queríamos que o espectador se identificasse com Jyn como pessoa, seja menino ou menina, homem ou mulher".

    Kathleen Kennedy, presidente do estúdio Lucasfilm, que faz os filmes da franquia, é mais direta ao comentar se sentia a necessidade de aplacar esses críticos.

    "Não sinto que eu tenha a responsabilidade de agradar a esse ou aquele setor do público. Eu jamais diria 'esta é uma franquia que há anos atrai principalmente o público masculino, logo, devo alguma coisa aos homens'."

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