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    Formado por dois autores-diretores, grupo se destaca mesclando linguagens

    MARIA LUÍSA BARSANELLI
    DE SÃO PAULO

    04/01/2017 02h00

    Avener Prado/Folhapress
    O paulistano Vinicius Calderoni (esq.) e o santista Rafael Gomes fazem careta para foto
    O paulistano Vinicius Calderoni (à esquerda) e o santista Rafael Gomes fazem careta para foto

    Vinicius Calderoni diz que seu maior talento é ficar amigo de pessoas legais. Conheceu o colega Rafael Gomes em 2005, logo depois de este concluir a faculdade de cinema na Faap, a mesma que Calderoni ainda cursava. Viu um filme de Gomes, "Alice", no Festival de Curtas e ficou intrigado: foi falar com o diretor.

    A conversa ("uma meia hora, tempo razoável para pessoas que não se conheciam", lembra Calderoni) conduziu a dupla de diretores e dramaturgos a uma série de caminhos. Foi no cinema que se conheceram, passaram pela música e pela televisão, mas é no teatro que criaram laços.

    Calderoni, que é músico (integra o grupo 5 a Seco), convidou Gomes para dirigir clipes e shows do seu primeiro disco, "Tranchã" (2007), e ali já encontraram a teatralidade que desenvolveriam a seguir.

    Em 2010, fundaram a companhia Empório de Teatro Sortido –além deles, compõe o núcleo do grupo apenas a produtora Isabel Sachs, que hoje mora em Londres, mas colabora a distância com as peças.

    Buscavam na empreitada um espaço para transitar entre as linguagens que os instigavam (cinema, música) e criar uma voz autoral. Dizem que antes de serem dramaturgos e diretores eram "espectadores profissionais" e seus gostos convergiam do encenador Aderbal Freire-Filho ao cineasta Paul Thomas Anderson.

    Chamaram a atenção já no primeiro espetáculo, "Música para Cortar os Pulsos", escrito e dirigido por Gomes e que venceu o prêmio da APCA de melhor peça jovem. Em março passado, os dois receberam prêmios Shell, Gomes o de melhor direção, por sua montagem de "Um Bonde Chamado Desejo", e Calderoni o de melhor autor, por "Ãrrã".

    Cinco peças criadas para a companhia

    O sortimento, por assim dizer, do grupo é grande. Em pouco mais de seis anos, foram nove peças. Mas em quase nenhuma ficha técnica é possível encontrar o nome de ambos. "Nós temos trajetórias aparentemente paralelas. Às vezes um não está na peça, mas está em termos de interlocução artística", diz Gomes, 34. "Nenhum estreia um espetáculo sem o outro ver e dar um juízo", continua Calderoni, 31.

    Foi só no oitavo trabalho, "Os Arqueólogos" (2016), que realmente dividiram as funções criativas: Gomes na direção e Calderoni na dramaturgia. A peça levou o APCA de melhor autor e concorre na mesma categoria do Shell.

    "É um espetáculo que vem dando muito certo, e a gente percebeu que tem que fazer isso [trabalhar lado a lado] mais vezes", afirma Gomes.

    É em especial pela forma que traduzem em texto inquietações contemporâneas que a dupla vem chamando a atenção de crítica e público.

    O apreço pela dramaturgia é tamanho que eles têm por preceito disponibilizar o texto das peças no saguão do teatro. Quando não há uma edição em livro, fazem cópias em papel A4 mesmo e as vendem por R$ 10 (o custo da xérox).

    PANTERA

    Seus textos também se espalham pelo cinema e pela televisão. É de Gomes, por exemplo, o curta "Tapa na Pantera" (2006), em que Maria Alice Vergueiro interpreta uma senhora que discorre sobre sua relação com a maconha.

    Ainda assinou o roteiro de "De Onde Eu te Vejo" (2016), filme de Luiz Villaça, e integrou a equipe de roteirista das séries "Louco Por Elas" (Globo), "3 Teresas" e "Vizinhos" (ambas do GNT). Para o futuro, planeja uma adaptação cinematográfica de "Música para Cortar os Pulsos".

    Por enquanto, escreve e irá dirigir um musical sobre a cantora Elza Soares, a estrear no segundo semestre. Este, um projeto fora do Teatro Sortido, como foram "Gota d'Água [a Seco]", com Laila Garin, e sua participação na dramaturgia de "Edukators", dirigido por João Fonseca.

    Já Calderoni prepara para junho "Chorume", a última parte de uma trilogia denominada "Placas Tectônicas", formada também por "Não Nem Nada" e "Ãrrã".

    Pensam em um dia fazer um musical buarquiano e uma peça, batizada de "Egotripas", sobre todas as correspondências (e-mails, mensagens) que trocaram "de forma intensa" ao longo dos anos.

    "E temos o projeto de musical em que Vinicius escreveria e comporia as músicas e eu dirigiria", diz Gomes. "Se chama 'O Vazio da Palavra Tudo'. Gostamos de títulos grandes e complexos."

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