Leekyung Kim/Divulgação | ||
Gustavo Vaz em cena da peca 'Ovono', da Kompanhia do Centro da Terra |
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Ilustrada
Sunday, 28-Apr-2024 13:54:53 -03CRÍTICA
'Ovono' sabe usar recursos multimídia, mas trama é confusa
VALMIR SANTOS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA06/01/2017 02h10
Usar recursos multimídia sem perder a aura artesanal do teatro é uma das virtudes que a Kompanhia do Centro da Terra cultiva há 27 anos.
Para dar asas ao gênero pouco praticado em palcos brasileiros –contraste às aptidões da literatura e do cinema–, o autor e diretor Ricardo Karman concebe em equipe um engenhoso sistema de informações visuais e sonoras sincrônico à presença dos atores.
Personagens virtuais interagem com os "de carne e osso" em fusões e superposições de linguagens da arte e da ciência. Os efeitos dessa plataforma audiovisual impactam a narrativa que critica o caráter regressivo por trás dos dogmas desenvolvimentistas e tecnológicos. Mas não bastam para sustentar o espetáculo.
"Ovono" não demonstra a mesma clareza no manejo do texto. A trama é confusa. Aparta a sofisticação técnica da capacidade de enredar. A tela inflável e transparente que ocupa quase todo o palco e sobre ela incidem animações resulta a paradoxal metáfora da bolha dramatúrgica.
A involução humana como sintoma do progresso a qualquer custo é inspirada numa sequência do filme "Uma Odisseia no Espaço", de Stanley Kubrick. A síntese entre o primata e o astronauta é maximizada no roteiro teatral. O osso lançado pelo macaco ultrapassa a órbita da terra, vaga por milhões de anos, torna-se gigante e está prestes a cair.
Quem tem a missão de impedir o apocalipse é o personagem-título, supercomputador cuja capacidade de percepção humana leva o cientista que o criou a questionar se a máquina pode ter alma.
Razão e fé infundem variações em torno de democracia, teocracia, messianismo, filosofia, inteligência artificial, justiça, empreiteiras, uma "presidenta", um ministro de guerra, Adão e Eva, etc.
Apesar das sensações impregnadas, a experiência não se concretiza. O apetite pelas ideias turva a viagem. Talvez as imagens digam mais sobre a distopia do que o discurso sobre ela.
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