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    Escritor argentino Ricardo Piglia morre aos 75 em Buenos Aires

    SYLVIA COLOMBO
    DE BUENOS AIRES

    06/01/2017 18h38 - Atualizado às 19h53

    Jorge Silva - 2.ago.2011/Reuters
    Literatura: o escritor e crítico argentino Ricardo Piglia, durante evento, em que recebeu o Prémio Internacional Gallegos Novel Romulo por seu livro "Blanco Nocturno", em Caracas (Venezuela).. *** ORG XMIT: CAR03 Argentine writer Ricardo Piglia attends an event where he received the Romulo Gallegos International Novel Prize for his book "Blanco Nocturno" in Caracas August 2, 2011. The prize honors outstanding works of novelists written in Spanish. REUTERS/Jorge Silva (VENEZUELA - Tags: SOCIETY MEDIA HEADSHOT)
    Piglia durante evento em que recebeu o Prémio Internacional Gallegos Novel Romulo em Caracas

    Morreu nesta sexta-feira (6), em Buenos Aires, Ricardo Piglia, aos 75 anos. Um dos mais importantes escritores argentinos contemporâneos, o autor de "Dinheiro Queimado" e "Respiração Artificial", ambos lançados no Brasil pela Companhia das Letras, padecia de esclerose lateral amiotrófica (ELA) desde 2014. Segundo o jornal "Clarín", ele morreu após uma parada cardíaca.

    Nascido em Adrogué (Grande Buenos Aires), Piglia era um estudioso da literatura argentina e, em seus livros, sempre estabelecia um diálogo entre a atualidade e esse passado, fazendo referências a autores de outras épocas.

    Desde que recebeu o diagnóstico da doença, passou a trabalhar de modo acelerado em uma trilogia biográfica, assinada com o nome de seu alter ego, Emilio Renzi.

    A obra, em três tomos, chama-se "Diários de Emilio Renzi". Os dois primeiros volumes foram lançados na Argentina e nos países de língua hispânica entre 2015 e 2016: "Años de Formación" e "Los Años Felices". Está no prelo, ainda, para publicação neste ano, "Un Día en la Vida".

    Também realizou recentemente um documentário, dirigido pelo cineasta Andrés Di Tella, no qual relatava a experiência de abrir os cadernos de anotações que escrevia desde a adolescência até a atualidade, enquanto apontava para os momentos mais importantes de sua vida, em paralelo com as várias fases da história argentina que os acompanharam.

    Trechos desses cadernos foram publicados pela "Ilustríssima" entre janeiro e junho de 2011 (leia o primeiro aqui ).

    Na época em que "327 Cuadernos" foi lançado, em 2015, Di Tella disse à Folha que Piglia tinha pressa em terminar o trabalho. "Mesmo tendo alguns movimentos sendo restringidos pela doença, ele seguia trabalhando, contratou assistentes, fez questão de ir até o fim", contou.

    Quando recebeu o diagnóstico, Piglia e a mulher, Beba Eguía, com quem estava casado havia mais de 30 anos, tiveram um entrevero com o plano de saúde do casal, que se recusou a pagar pelo tratamento com uma droga ainda em experimento.

    Vários intelectuais e amigos do mundo literário internacional assinaram um abaixo-assinado, e uma grande campanha circulou pelos meios de comunicação argentinos. O plano de saúde acabou cedendo e pagando o tratamento.

    Meses depois, Eguía contou à Folha que o remédio vinha ajudando ao autor, que havia podido retomar a escritura sem ter de ditar as frases para uma secretária. Nos últimos meses, porém, sua condição deteriorou-se.

    Piglia também exercia intensa atividade acadêmica. Durante muitos anos, dividiu sua vida entre Buenos Aires e Princeton, nos EUA, onde dava aulas de literatura latino-americana. O ambiente universitário o inspirou a escrever "O Caminho de Ida", último romance lançado no Brasil.

    CINEMA

    Piglia ganhou projeção internacional com "Respiração Artificial" (1980) e ficou ainda mais conhecido quando sua obra "Dinheiro Queimado" foi levada às telas, em 2000, com direção de Marcelo Piñeyro.

    Recebeu prêmios literários como o Romulo Gallegos, e suas obras estão traduzidas em mais de 15 idiomas.

    Em sua última entrevista à Folha, já doente, em 2015, Piglia falou sobre a experiência recente de abrir e reler seus diários. Um dos momentos mais marcantes, contou ele, foi a passagem em que conta como saiu da pequena cidade de Adrogué, porque o pai, peronista, havia se metido em um conflito político com opositores.

    "A viagem foi para mim uma travessia para o desterro. Eram apenas 400 km até Mar Del Plata [onde a família se instalou, antes de se mudar para Buenos Aires], mas eu estava deixando para trás toda uma forma de vida. Foi um rito de passagem. Soa como um exagero, mas as experiências decisivas surgem para nós como exageros. O que importa nos fatos é a intensidade que atribuímos a eles", disse o autor.

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