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    Em 'Vaga Carne', Grace Passô cria uma voz errante à procura de significados

    MARIA LUÍSA BARSANELLI
    DE SÃO PAULO

    13/01/2017 02h10

    Lenise Pinheiro/Folhapress
     Curitiba, Paraná, Brasil. Data 01-04-2016. Espetáculo Grão da Imagem: Vaga Carne. Atriz Grace Passô. Teatro Paiol. Foto Lenise Pinheiro/Folhapress
    Grace Passô durante sessão de "Vaga Carne" no Festival de Teatro de Curitiba de 2016

    Em "Vaga Carne", que estreia nesta sexta (13) em São Paulo, Grace Passô se divide entre dois personagens: uma voz e um corpo. A tal voz é um ser errante, incorpóreo. É capaz de invadir matérias líquidas, sólidas ou gasosas. Logo no início do espetáculo, ocupa o corpo da atriz. Ao entrar nessa mulher, vasculha o que existe ali e passa a se identificar com a imagem que ocupa.

    Para distinguir voz e corpo, Grace cria uma desconexão entre seus gestos e a fala –que ela mesma faz em cena.

    "Se eu fosse fazer uma sinopse honesta da peça, seria: uma voz que fala, fala, fala, fala à procura de significados, do mundo, das coisas, da sua própria fala", diz a atriz, diretora e dramaturga.

    Uma vez na atriz, a voz levanta questões de identidade, estereótipo, preconceito e como vemos uns aos outros. Mas não conclui os raciocínios, apenas sonda os temas, como se num delírio –o que a autora denomina uma "tempestade poética".

    "A peça fala muito de um sintoma do nosso tempo: essa vontade de agir numa realidade de vozes plurais e o desejo de transformar essas vozes e esses discursos em ação", comenta a atriz.

    IDENTIDADE

    O texto é o primeiro do projeto Grãos da Imagem, que reúne trabalhos sobre o tema da identidade. Grace escreveu "Vaga Carne" há cerca de três anos, sem imaginar que iria encená-lo. "Só que ele tinha um estranhamento que eu achei muito potente."

    Não tinha de início a ideia de tocar neste ou naquele assunto, mas, até por estar ela própria em cena, acaba tangendo sua imagem de mulher negra. "É claro que existe uma provocação o tempo inteiro: lanço perguntas sem concluir o discurso e isso obriga o público a enxergar esse corpo que é meu corpo."

    A atriz, 36, que se projetou ao lado do Espanca!, grupo mineiro que ajudou a fundar em 2004, retoma em "Vaga Carne" algumas parcerias recorrentes, que entraram no processo como "provocadores" (pessoas alheias à produção convidadas a opinar sobre ela): a bailarina Kenia Dias, a atriz Nadja Naira (da Companhia Brasileira de Teatro), o cineasta Ricardo Alves Jr. e a socióloga e Nina Bittencourt.

    Segue com as parcerias em "Preto", novo espetáculo da Companhia Brasileira de Teatro, um desdobramento de "Projeto Brasil" (2015), que estreia ainda neste ano. Também protagoniza o filme "Praça Paris", de Lúcia Murat (sem previsão de estreia), e prepara um projeto com o coletivo mineiro Filmes de Plástico.

    *

    VAGA CARNE
    QUANDO qui. a sáb., às 21h; dom. e dia 25/1, às 19h; até 5/2
    ONDE Sesc Pompeia, r. Clélia, 93, tel. (11) 3871-7700
    QUANTO R$ 7,50 a R$ 25
    CLASSIFICAÇÃO 14 anos

    Edição impressa

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