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Grace Passô durante sessão de "Vaga Carne" no Festival de Teatro de Curitiba de 2016 |
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Ilustrada
Saturday, 04-May-2024 07:13:04 -03Em 'Vaga Carne', Grace Passô cria uma voz errante à procura de significados
MARIA LUÍSA BARSANELLI
DE SÃO PAULO13/01/2017 02h10
Em "Vaga Carne", que estreia nesta sexta (13) em São Paulo, Grace Passô se divide entre dois personagens: uma voz e um corpo. A tal voz é um ser errante, incorpóreo. É capaz de invadir matérias líquidas, sólidas ou gasosas. Logo no início do espetáculo, ocupa o corpo da atriz. Ao entrar nessa mulher, vasculha o que existe ali e passa a se identificar com a imagem que ocupa.
Para distinguir voz e corpo, Grace cria uma desconexão entre seus gestos e a fala –que ela mesma faz em cena.
"Se eu fosse fazer uma sinopse honesta da peça, seria: uma voz que fala, fala, fala, fala à procura de significados, do mundo, das coisas, da sua própria fala", diz a atriz, diretora e dramaturga.
Uma vez na atriz, a voz levanta questões de identidade, estereótipo, preconceito e como vemos uns aos outros. Mas não conclui os raciocínios, apenas sonda os temas, como se num delírio –o que a autora denomina uma "tempestade poética".
"A peça fala muito de um sintoma do nosso tempo: essa vontade de agir numa realidade de vozes plurais e o desejo de transformar essas vozes e esses discursos em ação", comenta a atriz.
IDENTIDADE
O texto é o primeiro do projeto Grãos da Imagem, que reúne trabalhos sobre o tema da identidade. Grace escreveu "Vaga Carne" há cerca de três anos, sem imaginar que iria encená-lo. "Só que ele tinha um estranhamento que eu achei muito potente."
Não tinha de início a ideia de tocar neste ou naquele assunto, mas, até por estar ela própria em cena, acaba tangendo sua imagem de mulher negra. "É claro que existe uma provocação o tempo inteiro: lanço perguntas sem concluir o discurso e isso obriga o público a enxergar esse corpo que é meu corpo."
A atriz, 36, que se projetou ao lado do Espanca!, grupo mineiro que ajudou a fundar em 2004, retoma em "Vaga Carne" algumas parcerias recorrentes, que entraram no processo como "provocadores" (pessoas alheias à produção convidadas a opinar sobre ela): a bailarina Kenia Dias, a atriz Nadja Naira (da Companhia Brasileira de Teatro), o cineasta Ricardo Alves Jr. e a socióloga e Nina Bittencourt.
Segue com as parcerias em "Preto", novo espetáculo da Companhia Brasileira de Teatro, um desdobramento de "Projeto Brasil" (2015), que estreia ainda neste ano. Também protagoniza o filme "Praça Paris", de Lúcia Murat (sem previsão de estreia), e prepara um projeto com o coletivo mineiro Filmes de Plástico.
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VAGA CARNE
QUANDO qui. a sáb., às 21h; dom. e dia 25/1, às 19h; até 5/2
ONDE Sesc Pompeia, r. Clélia, 93, tel. (11) 3871-7700
QUANTO R$ 7,50 a R$ 25
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