• Ilustrada

    Sunday, 05-May-2024 22:05:59 -03

    Alalaô

    Globeleza vestida na vinheta de Carnaval agrada pela novidade

    GABRIELA SÁ PESSOA
    DE SÃO PAULO

    17/01/2017 02h10

    A Globeleza sambou na cara da sociedade em 2017. Logo ela, que todo ano se torna um símbolo do ziriguidum pré-Carnaval: desta vez, esteve à frente de uma bateria de discussões pois, pela primeira vez desde 1992, dançou completamente vestida na TV.

    Na noite de 8 de janeiro, um domingo, o "Fantástico" (Globo) exibiu a nova vinheta com a personagem. A paulista Erika Moura, no posto desde 2015, dançou frevo, samba e outros gêneros trajando no mínimo um maiô e, no máximo, um vestido que lembra trajes do maracatu (ao lado).

    No dia seguinte (9), o assunto ficou 14 horas entre entre os mais comentados no Twitter brasileiro.

    Ramon Vasconcelos/Divulgação
    A Globeleza de 2017, Erika Moura
    A Globeleza de 2017, Erika Moura

    A repercussão se dividiu em duas alas. A primeira festejava a novidade e via no vestuário de Moura um avanço na representação da mulher negra. A segunda, a via como um reflexo do conservadorismo de um Brasil mais careta.

    Na leitura da Globo, a recepção foi positiva. "Podemos dizer que o público está entrando nesta festa conosco", disse a emissora, em nota.

    A Globo afirma que a mudança não partiu de pesquisa de uma opinião ou da percepção de que a representação do corpo feminino tenha mudado em razão das discussões sobre gênero e raça.

    Nos últimos cinco anos, é raro o mês em que o Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) não julgue uma propaganda que envolva queixas sobre exploração do corpo feminino.

    Ainda segundo a emissora, não se trata necessariamente de um novo padrão. "A tendência é mostrar a diversidade, o figurino foi apenas uma das ferramentas. Ainda não estamos trabalhando na vinheta de 2018, mas queremos surpreender."

    Vivendo na Europa, o publicitário Washington Olivetto diz estar alheio ao debate. Mas pensa que, para causar impacto com alguma mudança em uma criação muito reconhecida, seja "natural" a emissora escolher "o contraste, o inverso" do que a Globeleza representa e a vista.

    ME REPRESENTA

    Erika Moura, 24, dança desde os 5, quando observava fascinada Valéria Valenssa, a Globeleza emérita, gingar nas vinhetas de Carnaval.
    "Cresci vendo o nosso corpo como arte, como objeto de trabalho. Vejo meu corpo sendo utilizado para esse propósito. Pintada ou com roupa, não levo para a sexualidade."

    A personagem tem importância diferente para quem milita pela igualdade de direitos para mulheres negras.

    "Para nós, é importante. Não é apenas a Globeleza vestida, é romper a objetificação de séculos da mulher negra, sempre colocada de maneira ultrassexualizada –o que contribui para essa imagem de que ela é lasciva e justifica a violência contra nossos corpos", argumenta a pesquisadora Djamila Ribeiro.

    Vinhetas Globeleza

    Em 2016, ela e a ativista Stephanie Ribeiro criticaram a personagem no blog Agora É que São Elas, da Folha.

    A nudez pode ser "uma libertação para a mulher branca que, de forma geral, é construída para ser 'de casa'", diz Djamila. "Para a negra, tem sempre outro caráter. Ela é colocada sempre assim, como se tivesse que servir aos desejos masculinos."

    São críticas que o criador da personagem e da vinheta, o designer Hans Donner, diz não se recordar de ouvir: "Sempre senti a felicidade das pessoas por transformar o corpo em uma obra de arte".

    Donner dirigiu a vinheta na era Valenssa, de 1992 a 2005 (eles são um casal desde 1994). Continuou como consultor, mas neste ano não se envolveu: "Ficou bom". O designer conta que já notava a redução progressiva da nudez –nos anos 1990 a pintura chegou a ser só um tapa-sexo.

    Para Donner, a Globeleza representa um "momento especial", em que muitos esperam festa. "Virou como se fosse uma abertura de programa, um grafismo que representa o produto –no caso, a transmissão do Carnaval."

    Edição impressa
    [an error occurred while processing this directive]

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024