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    'Tá no Ar' volta amanhã citando Jequiti e com piadas políticas

    GABRIELA SÁ PESSOA
    ENVIADA ESPECIAL AO RIO

    23/01/2017 19h20

    A quarta temporada do "Tá no Ar" nem estreou na TV e já fez barulho. Na semana passada, a emissora antecipou para assinantes do serviço de vídeo on-line Globo Play o primeiro episódio, que será exibido nesta terça (24).

    Um dos esquetes –são, em média, quarenta para 24 minutos de programa– viralizou e gerou uma série de discursões na internet pela sátira a uma propaganda de um banco, com clientes privilegiados que vão às melhores universidades, comem nos melhores restaurantes, e nunca são barrados.

    Enquanto as portas se abrem para os personagens sorridentes –todos brancos–, ao fundo, atores negros servem cafés e não conseguem passar pela porta giratória da agência bancária.

    No final, uma locução arremata: "ser branco no Brasil é ter um tratamento diferenciado, todos os dias, 24 horas, em qualquer lugar". A logomarca tem um quê de Banco do Brasil, só que mordaz: "Branco no Brasil, há mais de 500 anos levando vantagem".

    PODE VIR QUENTE

    Houve quem elogiasse a denúncia humorada do privilégio branco. Houve também quem observasse que, apesar de tecer uma crítica válida ao racismo, o "Tá no Ar" não escala atores negros em seu elenco principal. "A Globo não segmenta seu elenco por etnia, classe social, sexo nem religião", afirma a assessoria de imprensa da emissora.

    A recepção do "Tá no Ar" parece ter tantas nuances quanto a produção do humorístico, escrito por nove roteiristas chefiados por Marcius Melhem, Marcelo Adnet e dirigido por Maurício Farias.

    "O Brasil tem muitas questões de Fla-Flu atualmente, está dividido em tudo. A gente tem a preocupação de enxergar em quem estaria batendo ou criticando, o 'Tá no Ar' tem essa postura crítica", disse Adnet à Folha, uma semana antes do vídeo sobre a questão racial se espalhar.

    Na ocasião, ele se referia a outro esquete que estará na nova temporada, em que estudantes que ocupam uma escola cantam e dançam, como se estivessem em um filme musical americano, ao tentar escapar da violência policial.

    Parece não haver assunto que escape à metralhadora satírica do "Tá no Ar". De patrocinadores ao privilégio dos autores. A premissa de ironizar um meio de comunicação popular, como a televisão, permite usar qualquer linguagem desse veículo como invólucro para falar da sociedade e da política.

    Nesta noite, o videoclipe que tradicionalmente encerra a atração evocará, em forma de animação, um clássico comercial de TV de lápis de cor para falar dos trustes e acordos denunciados em operações de combate à corrupção –os traços de dois personagens lembram Eduardo Cunha e Sérgio Cabral.

    Como tudo no "Tá no Ar" é uma alusão, quem se sentir ofendido deverá antes vestir a carapuça para reclamar da piada, diz Melhem.

    As marcas, porém, parecem gostar da zoação, que consideram uma homenagem e "prova de que estão no imaginário popular", disse em 2016 a diretora de criação Laura Esteves ao jornal "Meio & Mensagem".

    "O programa é zoador, mas não somos rancorosos. O programa não tem raiva de nada, mas zoa com tudo", diz Marcius Melhem.

    "É uma empáfia um comediante fazer uma piada e achar que não vai ouvir nenhum comentário negativo", continua o humorista.

    Uma brincadeira, porém, só vai ao ar caso os nove roteiristas da equipe concordem com ela. "Se todo mundo aqui ri de uma piada, é difícil alguém não gostar fora daqui", afirma Melhem.

    O grupo diz nunca ter participado de pesquisa de audiência, em que assistem, por trás de um vidro escuro, à reação do público aos episódios. "Não tem essa política quando dá tudo certo [em um programa]. Ninguém ofereceu, mas também achei bom não fazer. É arrumar sarna para se coçar", diz Melhem.

    Não que o grupo não esteja atento à reação do público. Por exemplo, sabem quais esquetes farão burburinho na internet e podem divulgar nas redes antes da TV, como o "Lord of The Spoilers", de 2015 –o "Tá no Ar" costuma ficar entre os 15 programas de TV mais comentados no Twitter.

    Silvio Santos e paródias de séries da concorrência gringa, como "Walking Dead" e "House of Cards", têm lugar cativo nesse programa da Globo, escrito em um escritório compartilhado no Jardim Botânico, com cervejas artesanais no freezer. "Convivemos com as pessoas e estamos abertos para o mundo", diz Melhem.

    A jornalista viajou a convite da Globo

    NA TV
    Tá no Ar
    QUANDO 23h13, na Globo

    O QUE VOCÊ VERÁ NO 'TÁ NO AR'

    Sensacionalismo, 'Friends' e muito Silvio Santos
    O público poderá rever esquetes como 'Jardim Urgente', a paródia gospel do seriado 'Friends' e canções interpretadas na voz de Silvio Santos por Marcelo Adnet –há até uma menção à marca de cosméticos do patrão

    Convidado VIP
    Parodiado no quadro 'Balada Vip', o colunista de festas e celebridades Amaury Jr., hoje na RedeTV!, interpretou a si mesmo dividindo a cobertura de uma farra milionária com o "concorrente" Rick Matarazo (Marcius Melhem) e o ricaço Tony Karlakian (Adnet)

    Caetaneou
    Adnet imitará Caetano Veloso cantando 'Qualquer Coisa' em clipe contra a censura

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