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    Lotado de projetos, Miguel Falabella estreia 'O Homem de la Mancha'

    MARIA LUÍSA BARSANELLI
    DE SÃO PAULO

    24/01/2017 02h40

    Miguel Falabella, 60, diz ter vontade de investir em musicais originais no Brasil.

    "Queria, quero recuperar, eu vou fazer ainda", afirma o ator e diretor à Folha durante um almoço em um restaurante paulistano. Conta da intenção em fazer um musical chamado "Guanabara", inspirado na vida bucólica que levou durante a infância na Ilha do Governador, no Rio.

    Por enquanto, a originalidade ele credita à sua montagem de "O Homem de la Mancha", musical que reestreia no dia 9 de março no Teatro Alfa, em São Paulo.

    A obra do norte-americano Dale Wasserman, com música de Mitch Leigh e letras de Joe Darion, não é uma releitura de "Dom Quixote". Fala de seu autor, Miguel de Cervantes, que, preso pela Inquisição, encena seu famoso romance para se defender.

    Em sua versão, Falabella transporta o ambiente espanhol para um manicômio brasileiro, repleto de referências ao artista sergipano Arthur Bispo do Rosário (1911-89), que sofria de esquizofrenia.

    "É um dos trabalhos de que mais me orgulho", diz o diretor. "A grande fala da peça [de 1965], que é 'ver a vida como ela é, e não como ela deveria ser', traz a história para hoje, quando vivemos momentos aterradores. É uma ficção científica [o momento político brasileiro]. Nós não temos líderes. Tragam um mocinho, por favor."

    Lenise Pinheiro/Folhapress
    Peça "O Homem de la Mancha" Atores Jorge Maya (chapéu) e Cleto Baccic Teatro do Sesi - SP Data 20 set 2014 ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Cleto Baccic e Jorge Maya em 'O Home de la Mancha'

    Na TV, critica o país na série "Brasil a Bordo" (Globo), que já teve seus episódios gravados, mas ainda não tem previsão de estreia. "É um voo cego sobre o país", afirma o ator sobre o programa, retrato de uma companhia aérea falida cujo slogan é "Prefere de ônibus?". "Tem até arrastão dentro do avião."

    Indiretamente, as piadas fazem referências a figuras políticas do país, como um deputado corrupto (Eduardo Cunha) e sua mulher, que não se separa de sua bolsa azul (Cláudia Cruz foi acusada de gastar dinheiro de propina em itens de luxo) até vê-la afanada por uma aeromoça cleptomaníaca.

    PIZZA

    Falabella divide-se entre outro trabalho de direção, o monólogo "Uma Shirley Qualquer", com Susana Vieira, e "God", peça na qual interpreta um Deus insatisfeito com os feitos humanos.

    "E eu faço para aquela plateia específica. Se eles forem talentosos, terão o melhor. Se não forem, eu corto pedaços inteiros [do texto]. Ahhh, sem dó nem piedade. Estão chatos, querem comer pizza? Eu vou aliviar para vocês: vão comer a pizza. Se a bola não está voltando, vou ficar eu jogando sozinho? Mas isso raramente acontece."

    Também prepara para o próximo ano uma montagem do musical "Annie", sobre uma garota que sofre maus-tratos no orfanato. Terá a participação do grafiteiro Eduardo Kobra. "A minha ideia é ele criar uma padronagem para a gente imprimir, fazer os tecidos dos figurinos. Eu não quero fazer uma coisa realista. É uma menina numa cidade hostil, no meio de tantas."

    Valentino Mello/Divulgação
    Susana Vieira em cena da peça "Uma Shirley Qualquer" FOTO: Valentino Mello/Divulgação ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Susana Vieira em cena da peça 'Uma Shirley Qualquer'

    E diz que o mercado de musicais cresceu enormemente no país, mas ainda faltaria alinhá-lo ao turismo. "Por que não se faz uma campanha São Paulo Canta? Que é como eles venderam Nova York. Musical é uma realidade, acabou, ponto. Quem não gostar passa no caixa."

    Para ele, o que se perdeu no Brasil foi uma "economia teatral": peças comerciais, mas não necessariamente de grande produção, e que atingissem um grande público.

    "Era um teatro para o mundo real. Se a classe média quisesse se distrair, teatro era uma boa opção. Isso desapareceu e era o que nos permitia ter uma economia."

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