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    CRÍTICA

    Peça 'Jacy' acerta ao renovar base de espetáculos documentais

    VALMIR SANTOS
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    26/01/2017 02h10

    De feição despojada e quê mambembe, o espetáculo "Jacy" inquieta pela sofisticada reinvenção do Grupo Carmin a partir da história de uma mulher emendada à de sua cidade e à do país.

    Os artistas de Natal tornam ficcionais fatos da biografia não autorizada da cidadã potiguar que teria vivido 90 anos. A condicional reflete a natureza embaralhada do que é realidade ou não na peça de base documental escrita por Iracema Macedo e Pablo Capistrano em colaboração com a dupla que atua.

    Lenise Pinheiro/Folhapress
    A atriz Quitéria Kelly em ''Jacy'
    A atriz Quitéria Kelly em ''Jacy''

    Uma frasqueira encontrada ao acaso, no lixo da calçada, leva o ator e diretor Henrique Fontes e a atriz Quitéria Kelly a trilharem o paradeiro da dona, uma certa Jacy Lisboa Lucena. Do apreço cenográfico inicial, pensado para a obra que falaria da velhice, o objeto retrô e seus guardados tornam-se propulsores.

    No teatro, a rigor, criadores e público tentam pactuar uma verdade. É o que acontece em cena sob a aura cinematográfica de montar e editar. Uma ilha é operada simultaneamente no palco pelo videomaker Pedro Fiuza.
    A exposição do efeito de manipular estimula a cumplicidade, bem como o ato de os atores imbricarem ludicamente as próprias tentativas e acertos de percurso.

    Sob o signo da justaposição, presumem-se a paixão, o casamento e a separação do soldado que Jacy conhece das tropas dos EUA que aportam em Natal nos anos 1940.

    Entre as décadas de 1950 e 1990 ela mora no Rio. Até retornar à cidade da juventude, onde o único contato familiar agora é um irmão do interior, via telefone. A companhia em casa, uma cuidadora. Solidão e abandono reatam o tópico da velhice.

    Outra janela crítica é a genealogia expositiva do nepotismo e do coronelismo nos poderes. E assim "Jacy" encontra o anjo da história de Walter Benjamin, aquele que é arrastado pela tempestade, o progresso, como sintetiza um surpreendente e poético aparato ao final.

    JACY
    QUANDO qui. a sáb., às 20h30; até 18/2
    ONDE Sesc Pinheiros, r. Paes Leme, 195, tel. (11) 3095-9400
    QUANTO R$ 7,50 a R$ 25, 12 anos
    AVALIAÇÃO muito bom ★★★★

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