• Ilustrada

    Thursday, 02-May-2024 22:01:08 -03

    crítica

    Albert Serra deixa presepadas e faz seu primeiro filme digno

    SÉRGIO ALPENDRE
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    27/01/2017 02h00

    Em alguns casos, a ideia de autor mais atrapalha do que ajuda. Vemos um filme condicionado pelo que o autor fez anteriormente e esquecemos de nos ater ao filme. É o que pode acontecer com o diretor catalão Albert Serra.

    Seus trabalhos normalmente abusam de uma lentidão artificial, numa radicalização trôpega do estilo de Andrei Tarkóvski e Sharunas Bartas, preguiçosamente burilada para impressionar plateias de festivais internacionais.

    Não só as plateias, diga-se. Seu longa anterior, "História da Minha Morte", ganhou o Leopardo de Ouro no prestigiado Festival de Locarno de 2013.

    Mas de algum modo, em "A Morte de Luís 14", seu longa mais recente, encontramos uma adequação. A começar pelo veterano Jean- Pierre Léaud, ator símbolo da "nouvelle vague" (que por cinco vezes foi o alter-ego de François Truffaut), como o Rei Sol em seus últimos dias de vida, ao lado de seus cachorros e súditos.

    O rosto de Léaud nos mostra uma longa e lenta agonia. O ator incorpora a condição do personagem de tal forma, com uma presença tão forte e constante, que conduz, também, o tempo de todo o filme. Calhou, felizmente, que esse tempo combina com o de Serra.

    O diretor baseou-se nas memórias do filósofo francês Saint-Simon e do marquês de Dangeau (este um contemporâneo de Luís 14) para escrever o roteiro com Thierry Lounas e, pela primeira vez, chegou perto de uma verdadeira aclamação crítica. Para a crítica espanhola, por exemplo, esse longa foi um dos melhores lançamentos de 2016.

    Claro que há certo exagero nessa apreciação. Mas é inegável que desta vez, auxiliado pela direção de fotografia rigorosa e precisa de Jonathan Ricquebourg, Serra finalmente fez um filme digno, longe das presepadas que costuma cometer em nome de uma suposta liberdade artística.

    A Morte de Luís 14 (La Mort de Louis 14)
    DIREÇÃO Albert Serra
    ELENCO Jean-Pierre Léaud, Patrick d'Assumçao e Irène Silvagni
    PRODUÇÃO Portugal/França/Espanha, 2016, 12 anos
    QUANDO em cartaz
    AVALIAÇÃO bom

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024