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    Crítica

    'Mistério na Costa Chanel' é extravagante e exagerado

    DE SÃO PAULO

    28/01/2017 02h00

    Divulgação
    Cena de Mistério na Costa Chanel
    A atriz Juliette Bonoche como Aude van Peteghem no filme 'Mistério na Costa Chanel''

    A presença do termo Chanel no título brasileiro pode agir como artifício publicitário sobre quem ainda pensa que cinema francês é sinônimo de produto chique. O nome de Juliette Binoche no cartaz também pode seduzir o público que se orienta pelo brilho das estrelas.

    Para esses, "Mistério na Costa Chanel" tem muito para provocar irritação ou tédio.

    O título original, "Ma Loute", refere-se ao nome de um dos personagens do longa, um misto de comédia surrealista e crítica social ambientada numa bela região litorânea francesa no início do século 20.

    Como na minissérie "O Pequeno Quinquin", trabalho anterior do diretor francês Bruno Dumont, o argumento parte da investigação de uma série de crimes. O motivo traz à tona a mentalidade e os valores arraigados nas distintas camadas sociais.

    Em "O Pequeno Quinquin" a contraposição era entre a França tradicionalista e a presença multiétnica percebida como invasão. "Mistério na Costa Chanel" contrasta, durante o apogeu da burguesia, uma família parisiense cheia de modas e uma família de pescadores que sobrevive praticando canibalismo.

    Esse instantâneo da eterna luta de classes se expande para outros pares de opostos que o filme aproxima, como o contraste entre masculino e feminino no corpo da (o) jovem Billie e a burlesca relação entre o chefe de polícia gordo e seu assistente magro.

    Aparentemente, trata-se de mais uma representação da intolerância, da incapacidade de assimilar a diferença, que precisa ser distanciada (pelos ricos) ou suprimida (pelos pobres). Nem o desejo sexual garante a aceitação de um objeto inqualificável como o(a) transgênero Billie.

    São questões estimulantes, que o filme busca ao mesmo tempo que cria um universo visual extravagante, na qual os personagens são distorcidos como num cartum e tudo parece bizarro e afetado.

    A estratégia inclui o desempenho dos atores profissionais, como Binoche, Fabrice Luchini e Valeria Bruni Tedeschi, inseridos num elenco de figuras que são tipos mais que atores. O contraste é acentuado pela atuação exagerada, que enfatiza a impressão farsesca da trama.

    Mas esse amontoado de invenções formais, cheio de referências a significantes de prestígio como Brecht, Bresson, Fellini e Tati pode funcionar apenas para o público que sente prazer de decodificá-las.

    Quem estiver em busca de um modelo Chanel de sofisticação ou de uma atuação emocionada de Binoche pode sair da sessão com cara de paisagem.

    MISTÉRIO NA COSTA CHANEL
    (MA LOUTE)
    QUANDO: EM CARTAZ
    ELENCO: FABRICE LUCHINI, JULIETTE BINOCHE, VALERIA BRUNI TEDESCHI
    PRODUÇÃO: FRANÇA, 2016, 14 ANOS
    DIREÇÃO: BRUNO DUMONT

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