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A atriz Juliette Bonoche como Aude van Peteghem no filme 'Mistério na Costa Chanel'' |
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Ilustrada
Saturday, 04-May-2024 09:23:16 -03Crítica
'Mistério na Costa Chanel' é extravagante e exagerado
DE SÃO PAULO
28/01/2017 02h00
A presença do termo Chanel no título brasileiro pode agir como artifício publicitário sobre quem ainda pensa que cinema francês é sinônimo de produto chique. O nome de Juliette Binoche no cartaz também pode seduzir o público que se orienta pelo brilho das estrelas.
Para esses, "Mistério na Costa Chanel" tem muito para provocar irritação ou tédio.
O título original, "Ma Loute", refere-se ao nome de um dos personagens do longa, um misto de comédia surrealista e crítica social ambientada numa bela região litorânea francesa no início do século 20.
Como na minissérie "O Pequeno Quinquin", trabalho anterior do diretor francês Bruno Dumont, o argumento parte da investigação de uma série de crimes. O motivo traz à tona a mentalidade e os valores arraigados nas distintas camadas sociais.
Em "O Pequeno Quinquin" a contraposição era entre a França tradicionalista e a presença multiétnica percebida como invasão. "Mistério na Costa Chanel" contrasta, durante o apogeu da burguesia, uma família parisiense cheia de modas e uma família de pescadores que sobrevive praticando canibalismo.
Esse instantâneo da eterna luta de classes se expande para outros pares de opostos que o filme aproxima, como o contraste entre masculino e feminino no corpo da (o) jovem Billie e a burlesca relação entre o chefe de polícia gordo e seu assistente magro.
Aparentemente, trata-se de mais uma representação da intolerância, da incapacidade de assimilar a diferença, que precisa ser distanciada (pelos ricos) ou suprimida (pelos pobres). Nem o desejo sexual garante a aceitação de um objeto inqualificável como o(a) transgênero Billie.
São questões estimulantes, que o filme busca ao mesmo tempo que cria um universo visual extravagante, na qual os personagens são distorcidos como num cartum e tudo parece bizarro e afetado.
A estratégia inclui o desempenho dos atores profissionais, como Binoche, Fabrice Luchini e Valeria Bruni Tedeschi, inseridos num elenco de figuras que são tipos mais que atores. O contraste é acentuado pela atuação exagerada, que enfatiza a impressão farsesca da trama.
Mas esse amontoado de invenções formais, cheio de referências a significantes de prestígio como Brecht, Bresson, Fellini e Tati pode funcionar apenas para o público que sente prazer de decodificá-las.
Quem estiver em busca de um modelo Chanel de sofisticação ou de uma atuação emocionada de Binoche pode sair da sessão com cara de paisagem.
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