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    crítica

    História sobre lenda do blues 'amiga do diabo' é só petisco

    ÉRICO ASSIS
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    01/02/2017 02h17

    Reprodução
     Imagem do quadrinho O Diabo e Eu, da editora Mino Credito Divulgacao ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Imagem do quadrinho 'O Diabo e Eu', da editora Mino

    O DIABO & EU (regular)
    AUTOR Alcimar Frazão
    EDITORA Mino
    QUANTO R$ 42,00 (64 págs.)

    Robert Johnson é uma coleção de mitos. O primeiro é o da sua própria existência: entre sua morte em 1938 e as duas décadas seguintes, poucas pessoas podiam dizer que ouviram as gravações do "blueseiro" do Mississippi.

    Quem ouvia engrandecia sua lenda. Após os anos 1960, com a reedição de sua obra, músicos como Bob Dylan, Eric Clapton e Mick Jagger começaram a chamá-lo de gênio.

    Outros mitos: identifica-se apenas três fotos dele. Aos 19, sumiu por um ano inteiro e reapareceu virtuoso do violão. Se não mentia a idade (é incerto quando nasceu), Johnson fundou o Clube dos 27, trágico agrupamento de artistas que morreram aos 27 (Jimi Hendrix, Janis Joplin, Kurt Cobain, Amy Winehouse...).

    Seu maior mito é o do pacto com o diabo. Ostentar um contrato com o coisa-ruim fazia parte do marketing de blueseiros da época. Mas foi em Johnson que a história grudou. Ele dizia que encontrara o diabo numa encruzilhada, à 0h, sob um choupo, e lá negociara o sucesso na carreira.

    Johnson ganhou biografias não só em prosas, mas também HQs –de franceses (Mezzo e Jean-Michel Dupont) e japoneses (Akira Hiramoto).

    É do brasileiro Alcimar Frazão "O Diabo & Eu", nova ficcionalização da vida de Johnson. As duas histórias contadas são "mudas" (sem falas e onomatopeias) e dependem de um conhecimento mínimo da trajetória do cantor.

    A primeira fala de um padrasto violento com Johnson e sua mãe. A segunda conta o momento em que o diabo veio cobrar a dívida do biografado.

    Seguir a opção da HQ muda seria uma ótima amostra de competência na narrativa, não fosse a extensão tão curta. Pode-se ler as duas histórias do volume em menos que os 2min40s de seu clássico "Me and the Devil Blues".

    Apesar de ser uma comparação antiquada, "O Diabo & Eu" é como comprar um álbum com uma música só, mas pagar o preço de álbum inteiro. Ou ir a um show de apenas duas músicas. Apesar da alta qualidade gráfica e narrativa, o que se tem é um single, uma pequena experiência de algo maior.

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