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    Em livro, pai faz relato contundente sobre criação de filho autista

    MAURÍCIO MEIRELES
    DE SÃO PAULO

    02/02/2017 02h10

    Ricardo Borges/Folhapress
     Rio de Janeiro, Rj, BRASIL. 01/02/2017; Retrato do Luiz Fernando Vianna, que lança livro sobre a relação com o filho autista, chamado "Meu Menino Vadio". ( Foto: Ricardo Borges/Folhapress)
    O jornalista e escritor Luiz Fernando Vianna no bairro do Grajaú, no Rio de Janeiro

    Em dado momento, o pai do menino autista questiona-se: queria ter um filho assim? Não. Deixaria de ter se a ciência pudesse fazer o diagnóstico ainda no útero? Com certeza. Ainda assim, ama a criança? Sem dúvida, mais do que qualquer coisa.

    Esse breve questionamento resume todo o relato de "Meu Menino Vadio", do jornalista Luiz Fernando Vianna, sobre a relação do autor com Henrique, de 16 anos, que tem autismo. É um olhar contundente e sombrio, mas que resvala vez ou outra nas suas pequenas alegrias.

    Vianna brinca dizendo ser esse um livro de "anti-ajuda". Diferentemente do que ocorre em relatos motivacionais, o tom que atravessa a obra é cru.

    "Sempre imaginei contar essa história de maneira mais crua. Sempre me incomodaram esses livros falando que o autista é um anjo, uma bênção. É um conforto, mas não tem muita relação com a realidade. E não acho que ajude. O Henrique tem uma história peculiar de dificuldades, criadas por mim e pela mãe dele", diz.

    O escritor se refere ao divórcio conturbado do casal. O livro começa com a ida da mãe com seu novo marido e Henrique, para a Austrália.

    Vianna e a ex-mulher ainda brigavam na Justiça. Em dado momento, de acordo com o relato, ela pediu para ficar com a criança em um dia que não era o seu –mas já tinha as passagens compradas para se mudar com o novo marido.

    Em um plantão judicial, na véspera, a mãe conseguiu uma liminar que permitia a viagem do garoto.

    O menino nunca mais voltou integralmente ao Brasil. Hoje, vive um ano nos Estados Unidos, com a mãe, e outro no Brasil, com o pai. Sobre essa situação, Vianna é crítico consigo mesmo também.

    "Ela não é vilã, e eu mocinho. Contribuí para esse desenvolvimento que eu acho nefasto para a vida do Henrique. Escrever só faria sentido se eu fizesse um julgamento de mim mesmo", diz o autor.

    Outro ponto destacado pelo relato é a visão de alguém de classe média, acostumado a seus privilégios, que se viu na necessidade de lutar pelos seus direitos e os do filho.

    "Acaba o privilégio de você ser um riquinho que vai fazer seu filho feliz como você imaginava. Mesmo que eu tivesse muito dinheiro, nunca mais teria uma vida de paz."

    Meu Menino Vadio
    Luiz Fernando Vianna
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    Com um olhar muitas vezes pessimista e cercado de pensamentos sobre a própria morte, Vianna dedica o livro a sua segunda filha, de seis anos. Espera que, ao crescer, ela possa entender o pai e o irmão.

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    MEU MENINO VADIO
    AUTOR Luiz Fernando Vianna
    EDITORA Intrínseca
    QUANTO R$ 44,90 (208 págs.)
    LANÇAMENTO nesta quinta (2), às 19h; Livraria da Travessa, r. Visconde de Pirajá, 572, Rio, tel. (21) 3205-9002

    Edição impressa

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