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    'Eight Days a Week', sobre turnês dos Beatles nos anos 1960, chega ao Brasil

    THALES DE MENEZES
    DE SÃO PAULO

    02/02/2017 02h32

    Como tornar ainda interessante, em 2017, um documentário sobre os Beatles? Simplesmente a banda mais amada e documentada da história do rock, não?

    Imagens inéditas –se é que resta alguma– e uma boa defesa de tese sobre o grupo poderiam justificar uma nova investida cinematográfica. E "Eight Days a Week", que estreia hoje para uma breve temporada de apenas quatro dias nos cinemas brasileiros, reúne as duas coisas.

    Sim, foi possível encontrar imagens nunca divulgadas comercialmente 46 anos depois da dissolução da banda. A pesquisa foi enorme e custou muito dinheiro. Outros produtores não teriam recursos, mas quem está por trás do documentário é Ron Howard, diretor peso-pesado ganhador do Oscar em 2002 por "Uma Mente Brilhante".

    Além do garimpo do material, que usou até jovens estagiários percorrendo pessoalmente arquivos de pequenas emissoras de TV no interior dos Estados Unidos, Howard empregou toda a tecnologia hollywoodiana para a restauração das imagens. Às vezes o resultado chega a ser assombroso, com cenas estalando de novas, que parecem ter sido gravadas ontem.

    VIDA NA ESTRADA

    O projeto acerta também ao escolher um corte atraente na trajetória da banda, sem tentar abranger a grande e manjada carreira do quarteto durante todos os anos da década de 1960. Aqui o foco são três anos de turnês contínuas dos Beatles, do primeiro show nos Estados Unidos, em 1964, até o último, em San Francisco, em 1966.

    Assistir ao filme deixa claro por que os músicos resolveram parar com os shows. O documentário é um eficiente exercício de jornalismo. Editado em ordem cronológica, expõe como a vida dos Beatles na estrada foi ficando cada vez mais fora de controle.

    Vale lembrar que a Beatlemania não teve precedentes. Artistas como Rudolph Valentino (1895-1926), Frank Sinatra (1915-1998) e Elvis Presley (1935-1977) colecionaram fãs exaltadas, que arremessavam calcinhas na direção deles –sim, Wando não foi pioneiro na categoria. Mas eram moças ainda comportadas perto das fãs dos Beatles.

    Nos dias de hoje qualquer artista meia-tigela já conta com um esquema de segurança. Há 50 anos, ninguém imaginava como os reis do iê-iê-iê afetariam adolescentes com hormônios em polvorosa. As cenas que mostram os Beatles entrando e saindo de hotéis, teatros e aeroportos beiram uma guerra campal.

    Meninas passavam horas esperando os ídolos e, quando eles chegavam, partiam para um corpo a corpo insano com poucos e despreparados seguranças. É incrível que os Beatles tenham escapado ilesos dessas batalhas.

    EVOLUÇÃO MUSICAL

    No decorrer do filme, é evidente a constante evolução musical e mercadológica do quarteto. As canções ficam mais sofisticadas –e sempre irresistíveis– a cada ano, e os locais dos shows crescem cada vez mais, empurrando o grupo aos grandes estádios.

    Uma ótima sacada do documentário é entrevistar pessoas que estavam na plateia dos shows dos Beatles, como as atrizes então adolescentes Sigourney Weaver e Whoopi Goldberg, esta com um depoimento emblemático. As amigas a censuravam por gostar dos Beatles, rapazes brancos. E ela respondia: "Eles não são brancos, eles são os Beatles!".

    Coube a George Harrison exteriorizar o desejo de parar com os shows, antes que afetassem a qualidade musical da banda. Todos compartilhavam o receio e aceitaram.

    Depois de 1966, os quatro só iriam se apresentar ao vivo mais uma vez, em 1969, no topo do prédio da gravadora deles em Londres, não propriamente um show.

    A via-sacra dos Beatles ganha documento antológico.

    *

    EIGHT DAYS A WEEK - THE TOURING YEARS
    DIREÇÃO Ron Howard
    QUANDO de qui. (2) a dom. (5); a lista de salas exibidoras está no site beatlesnocinema.com.br

    Edição impressa

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