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    'Desconstruindo Una' mescla biografia e casos de abuso contra mulher

    ÉRICO ASSIS
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    04/02/2017 02h03

    Entre 1975 e 1980, Peter Sutcliffe, o Estripador de Yorkshire, matou 13 mulheres na região de Leeds, Inglaterra.

    Apesar do terror no local, de outras sete mulheres atacadas terem saído vivas e deposto contra o homem, de vários retratos-falados, a polícia levou cinco anos para prender o assassino. Nesse período, Sutcliffe foi interrogado nove vezes como suspeito, sem ser preso.

    Incompetentes no quesito captura, os policiais ocupavam-se com a classificação das vítimas: ou prostituta, ou "mulher de moral questionável", ou "inocente".

    Una viveu o fim da infância e início da adolescência na época do Estripador de Yorkshire e morava em Leeds. Ela foi vítima de abuso por um homem chamado Damian aos 10 anos. Aos 12, por um garoto chamado Terry. Mais tarde, foi a vez de um namorado, Theo. Recebeu o diagnóstico de transtorno de estresse pós-traumático e reconstruiu a vida aos poucos.

    Divulgação
    Imagens do livro Desconstruindo Una da editora Nemo Credito Divulgacao ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Desenho do livro 'Desconstruindo Una'

    Do cruzamento entre sua autobiografia e o caso real do Estripador, "Desconstruindo Una" faz um tratado sobre a misoginia. Os usos do termo "vadia", a banalização da violência contra a mulher no sistema jurídico e a culpabilização frequente das vítimas entram em análise. E uma análise em quadrinhos.

    Não exatamente o quadrinho tradicional, de cenas emolduradas e encadeadas da esquerda para a direita, de cima para baixo. É mais um misto de livro ilustrado com textos em diagramação criativa, infografia jornalística e cenas que, sim, lembram HQ.

    O resultado é uma abordagem que conta, informa, documenta e serve como uma espécie de manual para identificar a misoginia.

    Há uma cena exemplar com o namorado Theo, narrada primeiro em texto. Ele chega de carro e quer que ela entre. Abaixo, em desenhos de poucas linhas, veem-se 12 estágios de Theo tentando levar Una para dentro do carro, até conseguir. Segue-se uma cena de abuso sexual.

    O método esquemático, sem ênfases dramáticas, mostra como o abuso começa em pequenas banalidades.

    Una passa de Yorkshire para dados recentes sobre violência contra a mulher no mundo. Ela ilustra números sobre injustiças contra mulheres na Inglaterra e além, critica tribunais que exploram a culpa nas próprias vítimas e ataca a obsessão da cultura pop pela violência contra mulheres e crianças.

    A HQ monta uma espécie de grande reportagem sobre o tema, sempre pontuada pelo virtuosismo gráfico. Grandes doses de informação se desafogam em longas sequências de imagens.

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    A autora usa o pseudônimo Una porque, segundo diz, é uma entre várias com histórico similar. O livro foi montado ao longo de sete anos de pesquisa e produção. Virou um documento, infelizmente necessário, para alertar quanto à misoginia banal.

    *

    DESCONSTRUINDO UNA
    AUTORA Una
    TRADUTORA Carol Christo
    EDITORA Nemo
    QUANTO: R$ 49,80 (208 págs.)

    Edição impressa

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