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    crítica

    Novo '24 Horas' precisa tratar de temas atuais se quiser sobreviver

    RODRIGO SALEM
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE LOS ANGELES

    06/02/2017 02h12

    A série original "24 Horas" estreou cerca de dois meses após os ataques de 11 de Setembro. O clima político era de pura vingança. Custe o que custar, era preciso vingar as vítimas. E nada melhor que Jack Bauer (Kiefer Sutherland), um agente disposto a usar de todos os métodos para impedir tragédias em solo americano, para personificar esse sentimento.

    Agora, 16 anos depois -e três após a última aventura de Bauer na TV-, a Fox tenta repetir a mesma fórmula com "24 Horas - O Legado", série que mantém o revolucionário formato de "tempo real" do programa original, mas com novos personagens.

    O cenário político também é diferente. Em meio a ordens do presidente Donald Trump visando estereotipar e oprimir a comunidade muçulmana, ter um programa que abre com um grupo de terroristas árabes torturando e atirando na cabeça de um soldado americano é, no mínimo, um clichê desastroso.

    Divulgação
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    Eric Carter (Corey Hawkins) em cena de '24 Horas - O Legado'

    É assim que começa "24 Horas - O Legado": os terroristas estão atrás dos patrulheiros que mataram um membro do grupo deles e buscam recuperar material que teria sido furtado. Eric Carter (Corey Hawkins, o Dr. Dre de "Straight Outta Compton"), um dos soldados, percebe que virou alvo e precisa descobrir quem teria entregado sua identidade aos bandidos.

    Mas os dois primeiros episódios de "24 Horas - O Legado" só não são completamente ultrapassados —pelo menos para uma série que um dia ousou explodir um artefato nuclear em pleno solo americano—, porque possui um elenco capaz de dar dramaticidade a frases como: "Sou negro e estou numa esquina, acho que ser preso não vai ser difícil", diz Eric, quando precisa ser roubar US$ 2 milhões de uma delegacia.

    A cena mostra que o fato de o protagonista ser negro pode render situações mais críticas socialmente. É um voto de confiança alto, mas nem sempre longe dos clichês, principalmente quando o herói precisa deixar a mulher (Anna Diop) nas mãos do irmão dele, que é um traficante. Nem novela da Globo forçaria tanto a barra.

    É verdade que há personagens que tentam alertar para o sentimento anti-islâmico, mas é pouco para a franquia. As tramas da série original eram construídas sob visões pessimistas fantasiosas, como campos de concentração para muçulmano, governo invadindo a privacidade, vírus digitais capazes de destruir cidades e políticos perigosos.

    O problema é que a realidade hoje parece muito mais tensa, perigosa e bem escrita que sugere "24 Horas - O Legado".Onde estão as ameaças de milícias do Oregon? E os supremacistas brancos em ascensão? E as tensões internacionais criadas por um presidente ultranacionalista? Eric Carter precisa ir contra tudo isso se quiser sobreviver por mais de uma temporada.

    *

    "24 Horas — O Legado"
    ONDE: FOX
    QUANDO: quinta (9), 0h

    Edição impressa

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