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    Após cinco décadas, Black Sabbath se despede com show em sua cidade natal

    CHRISTOPHER D. SHEA
    DO 'THE NEW YORK TIMES'

    06/02/2017 12h19

    Divulgação
    Aos 67 anos, Ozzy Osbourne lidera o Black Sabbath na The End Tour
    Ozzy Osbourne, 67 anos, em show do Black Sabbath na The End Tour, no sábado (4)

    Neste sábado (4), na Genting Arena em Birmingham, Inglaterra, uma cortina branca e diáfana subiu rapidamente, revelando o cantor Ozzy Osbourne que, pela última vez como vocalista do Black Sabbath, disparou a canção de 1970 que deu à banda o seu nome.

    A faixa foi o tiro de largada do show da banda na turnê "The End", que segundo os integrantes foi a última. Formada em 1968, a banda formada de Birmingham teve muitos altos e baixos ao longo da trajetória e por fim se despediu dos palcos com um show em sua cidade natal.

    "Vamos fazer loucuras", gritou Osbourne para a plateia, logo no começo do show, antes de cantar versões ferozes das canções mais conhecidas da banda, como "War Pigs", "Into the Void", "Iron Man", e números tirados do fundo do baú como o instrumental "Rat Salad".

    Os fãs e a mídia estavam agitados antes do show por conta de rumores sobre possíveis efeitos especiais e surpresas, que poderia incluir até a participação do baterista original do Black Sabbath, Bill Ward, que está brigado com o grupo desde 2012. Porém, a banda se limitou a tocar, por quase duas horas desfilando suas canções mais antigas dos anos 1960 e 70, sem grandes alterações nos arranjos (mas, claro, com muito volume).

    Ao lado de Tony Iommi (na guitarra) e Geezer Butler (no baixo), dois integrantes da formação original, e com o apoio do baterista Tommy Clufetos, um músico mais jovem que retornou à banda para a turnê, Osbourne se posicionou no centro do palco, segurando firme o microfone e se mexendo de um lado para outro ao cantar.

    Algumas das canções mais famosas vieram acompanhadas de fogos de artifício e uma chuva de confetes marcou o final. Gigantescos balões púrpuras e pretos caíram do teto na penúltima canção e saltitaram pela arena pelo resto do show.

    No show, a audiência estava repleta de fãs leais, vestidos da cabeça aos pés com roupas relacionadas ao Black Sabbath. Mas a maioria dos espectadores não parecia assim tão radical. Um homem que estava usando uma camiseta do Black Sabbath e não quis revelar seu nome disse trabalhar em Londres, no setor de serviços financeiros e, momentos antes que as luzes diminuíssem para o show, estava lendo a revista "The Economist". Mas, quando Osbourne chegou ao clímax de "Black Sabbath", a revista já tinha desaparecido de vista e o homem estava em pé, com as mãos erguidas, cantando alegremente a letra: "Satan's sitting there, he's smiling/ Watches those flames get higher and higher" ("Satã está sentado aqui, ele está sorrindo/ Assistindo aquelas chamas crescerem cada vez mais").

    "O Black Sabbath é parte da identidade cultural de Birmingham", disse Pamela Pinski, 31, que vive e trabalha perto da arena. Ir ao show, ela acrescentou, "parece ser uma forma de patriotismo municipal", como que uma oportunidade de "celebrar garotos locais que se deram bem".

    The New York Times
    Black Sabbath se despede dos palcos em show neste sábado (4)
    Black Sabbath se despede dos palcos em show que ocorreu neste sábado (4)

    Em entrevistas, os membros da banda insistiram que a turnê "The End", iniciada em Omaha, Nebraska, pouco mais de um ano atrás, e com passagem pela Europa, América do Sul e Austrália antes de chegar ao Reino Unido no mês passado - seria realmente a sua última. Iommi, que há alguns anos descobriu ter câncer, disse à revista "Rolling Stone" que seu "corpo não aguenta muito mais". Osbourne declarou em entrevista recente à BBC que "definitivamente paramos por aqui".

    Apesar do anúncio de despedida muitos fãs acreditam que a banda voltará a se apresentar, uma vez que em 1992, Osbourne fez uma turnê mundial de despedida, que descreveu como um adeus à música. Porém, passados três anos ele estava de novo na estrada.

    Do lado de fora da arena, Errol Lynch, 45, era um dos diversos fãs que acreditavam que a banda ainda tinha o que oferecer. "Dentro de dois anos, eles vão querer colocar os seus problemas no passado", disse o espectador, acrescentando que mesmo que o Black Sabbath não faça novas turnês "talvez toque em um festival ou outro". Lynch, nascido na Irlanda, viajou a Birmingham para ver o grupo pela terceira vez em uma semana. Osbourne tem pelo menos um show solo planejado para a metade do ano, em Illinois.

    O vocalista disse que estava se sentindo emocionado, momentos antes do show, mas sua despedida foi curta. Ele expressou admiração pela "jornada que todos nós fizemos" e agradeceu a plateia diversas vezes durante o show, e em dado momento caiu de joelhos e fez uma reverência. Quando a última canção, "Paranoid", terminou, ele soprou um beijo para o público, agradeceu algumas vezes e depois parou para uma foto ao lado dos colegas de banda, antes de deixar o palco.

    No saguão da arena, ao final do show, Mike King, 32, que viajou de San Francisco para assistir ao show, disse que classificava a apresentação como uma das melhores recentes do Black Sabbath."Vou sentir a falta deles, muito, muito, muito", ele disse, acrescentando que "agora eles se foram, acabou".

    HISTÓRIA

    Quase meio século atrás, o Black Sabbath começou como uma banda de blues. Mas rapidamente evoluiu para um gênero próprio. Nos anos iniciais da banda, suas canções com introduções longas e vagas referências ao satanismo nas letras levaram o grupo a ser ridicularizado pelos críticos e audiências convencionais, mas mobilizaram uma base crescente de fãs no underground. Osbourne ganhou reputação como uma figura extrema, que vivia no limite, e adquiriu notoriedade por morder e arrancar a cabeça de um morcego vivo em um show de 1982.

    A fama do vocalista mudou de maneira surpreendente quando ele se tornou astro do reality show "The Osbournes", na MTV, em 2002, que o retratava como um pai de família excêntrico mas muito amável, resmungando constantemente. E em seu último show, o Black Sabbath parecia simplesmente uma banda de rock.

    A banda sempre foi identificada como baderneira, alternativa, de classe operária e dotada de fortes raízes em Birmingham, e por isso o show de despedida em sua cidade natal tinha ressonância especial para algumas das pessoas da audiência.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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