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    Crítica

    'Vazante', de Daniela Thomas, arrebata por materialidade radical

    PEDRO BUTCHER
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM BERLIM

    13/02/2017 02h00

    Ricardo Teles/Divulgação
    Celso Timoteo Pereira e Alexandre de Sena em cena de "Vazante", de Daniela Thomas Foto de Ricardo Teles/Divulgação ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Celso Timóteo Pereira e Alexandre de Sena em cena de "Vazante", de Daniela Thomas

    Quarto longa de Daniela Thomas –primeiro "solo"depois de experiências com Walter Salles e Felipe Hirsch–, "Vazante" é uma história de múltiplas faces ambientada em Minas Gerais, em 1821.

    Não há protagonistas, e sim personagens que vivem relações moldadas pela rígida estratificação da sociedade escravocrata brasileira.

    O que chama a atenção no filme é sua materialidade. Barro, pano, madeira e ferro, elementos que compõem paisagens, cenários, figurinos, são filmados com atenção e um nível de detalhe tamanhos que se pode ter uma sensação precisa de como esses elementos eram constituintes da época em que o filme se passa.

    Ao optar por essa materialidade radical, Thomas escapa da maior armadilha do "filme de época" (a direção de arte que chama atenção para si mesma) e avança pelo caminho mais difícil, que é essa tentativa de recriar sensorialmente como as pessoas daquela época de fato viviam.

    Sobre essa camada primeira, que dá a "Vazante" uma concretude perturbadora (bastante acentuada pela fotografia em preto e branco de Inti Briones), entra o segundo –e nem por isso secundário– elemento: o humano. E aí o filme assume riscos ainda maiores.

    Essa vontade de reconstruir um período específico do Brasil aos poucos ganha sentido, numa construção sofisticada e de rara beleza que carrega uma bem vinda ambição de revisitar as engrenagens de um país escravocrata e repensar mitos da "fundação" do Brasil mestiço e cordial.

    Com uma economia de diálogos que jamais se faz sóbria e personagens que têm pulsação própria, "Vazante" enfim inclui na equação brasileira uma violência histórica constituinte, que tem um aspecto infelizmente trágico. É um filme que reverbera com toda força sua contemporaneidade.

    VAZANTE

    DIREÇÃO Daniela Thomas

    ELENCO Adriano Carvalho, Luana Nastas, Sandra Corveloni

    PRODUÇÃO Brasil, 2017

    Edição impressa

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