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Roberto Bolano - Ilustração |
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Ilustrada
Saturday, 04-May-2024 20:57:57 -03Crítica
Livro adianta traços da obra futura de Bolaño
JOCA REINERS TERRON
ESPECIAL PARA A FOLHA14/02/2017 02h06
O ESPÍRITO DA FICÇÃO CIENTÍFICA
QUANTO R$ 39,90 (184 págs.)
AUTOR Roberto Bolaño
TRADUÇÃO Eduardo Brandão
EDITORA Companhia das LetrasNo prefácio original de "O Espírito da Ficção Científica", não incluído na edição brasileira, Cristopher Domínguez Michael procura minar a desconfiança dos leitores em relação ao baú sem fundo de obras póstumas de Roberto Bolaño (1953-2003).
"No caso de Bolaño", defende, "atribuir sua sorte ao marketing é não tê-lo lido".
O livro, concluído em 1984, fornece diversos sinais que levam a pensar que a forma literária do autor chileno é tudo, menos comercial.
Fragmentário, interrompido e justaposto (nem sempre com habilidade), o romance pulsa através da dicção do poeta que Bolaño sempre afirmou ser, em vez de ser movido pelo ritmo incessante do narrador de obras posteriores como "Estrela Distante" (1996) e "2666" (2004).
Em Bolaño a sumarização típica da trama, uma técnica narrativa, cede lugar ao arrolamento surrealista, em listagens às vezes aleatórias.
Exemplo: "Finalmente, no terceiro andar, ao qual se sobe pelo quarto de ferramentas, encontramos um equipamento de radioamador e uma profusão de mapas esparramados pelo chão, uma pequena emissora que transmite em FM, um equipamento de gravação semiprofissional, uma série de amplificadores japoneses etc."
O Espírito Da Ficção Científica Roberto Bolaño Comprar Outro aspecto de sua obra é a cosmogonia expansiva, como se impulsionada por um bigue-bangue.
É possível reconhecer em "O Espírito da Ficção Científica" o gérmen de "Os Detetives Selvagens" (1998). Estão ali a dupla de poetas noviços, "alter egos" do autor, agora nomeados Remo Morán (também protagonista de "A Pista de Gelo", de 1993) e Jan Schrella, que escreve cartas a escritores de ficção científica na tentativa de convencê-los da possibilidade de uma obra desse gênero produzida no subdesenvolvimento.
Contudo, se neste póstumo já se encontram os temas prediletos de Bolaño e a estrutura de "Bildungsroman" quebrado que conforma toda sua obra, faltam os níveis de empatia que posteriormente despertaria em seus leitores.
Falta-lhe ainda linguagem, o que é o mesmo que dizer que lhe falta literatura, ao menos aquela tão pungente de sua obra futura.
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