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    Oscar

    Filme estrangeiro: Diversidade da produção mundial não é representada

    CÁSSIO STARLING CARLOS
    CRÍTICO DA FOLHA

    20/02/2017 12h05

    A ideia de que os cinco concorrentes a filme estrangeiro representam a diversidade da produção mundial é tão falsa quanto a crença de que os indicados nas demais categorias são, de fato, os melhores.

    Neste ano, a disputa concentra representantes de três países europeus, além do Irã e da Austrália.

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    Divulgação
    O casal Rana (Shahab Hosseini) e Emad (Taraneh Alidoosti), do iraniano "O Apartamento"
    O casal Rana (Shahab Hosseini) e Emad (Taraneh Alidoosti), do iraniano "O Apartamento"

    "O Apartamento"
    O candidato iraniano representa o cinema incubado em festivais, aquele tipo de filme que nunca viaja sem ostentar o crachá que o identifica como "ARTE". O diretor Asghar Farhadi, que já conquistou, em 2012, um inédito Oscar para o Irã com "A Separação", tece uma narrativa intricada que pode atrair a maioria dos votantes em busca de sinais prontos de complexidade. No entanto, se compararmos "O Apartamento" aos primeiros filmes do diretor, não passam despercebidos os sinais de comodismo criativo, a repetição de recursos disfarçada sob a máscara do estilo. Nada disso impede que os acadêmicos aproveitem a indicação para se posicionar contra a política de ódio de Trump e elejam o filme iraniano com os votos da tolerância.

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    Divulgação
    Tanna
    Mungau Dain e Marie Wawa sentados numa rocha na ilha de Tanna; filme representa a Austrália

    "Tanna"
    A produção australiana rodada em Vanuatu combina a atração que exercem os cenários exóticos e o valor de temas autênticos. Dividido em dois blocos, a primeira parte se detém no cotidiano dos membros de uma tribo numa isolada ilha vulcânica do Pacífico, enquanto a segunda descreve as peripécias de dois jovens amantes que desafiam as regras que estruturam aquela sociedade. A direção de Martin Butler e Bentley Dean está impregnada da experiência deles em documentários, o que valoriza, sobretudo, o aspecto antropológico do filme. A opção de transformar o enredo em fábula moral associado à tentação de embelezar demais as imagens enfraquece o resultado, mas faz "Tanna" preencher todos os requisitos necessários para ser considerado um "filme de Oscar".

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    Divulgação
    Os personagens Helmut (Joel Basman) e Sebastian (Louis Hofmann) em cena do dinamarquês "Terra de Minas"
    Helmut (Joel Basman) e Sebastian (Louis Hofmann) em cena do dinamarquês "Terra de Minas"

    "Terra de Minas"
    A coprodução germano-dinamarquesa mostra como a categoria de filme estrangeiro permanece influenciada pelo convencionalismo e pelo cinema de mensagem. O filme recria o destino de soldados mirins que integraram o derradeiro esforço militar de Hitler ao final da Segunda Guerra. Com a derrota alemã, os meninos foram obrigados a trabalhar na localização e desativação de milhares de minas ocultas sob as areias de todo o litoral da Dinamarca. O elenco forte e a tensão constante de ações suicidas não são suficientes para distinguir "Terra de Minas" dos filmes de guerra rotineiros. A nota humanista que encerra a história deve tocar os corações, mas o poder da memória para esquecê-lo agirá mais rápido.

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    Rolf Lassgård é um viúvo ranzinza em processo de tranformação no sueco em "Um Homem Chamado Ove"
    Rolf Lassgård é um viúvo em processo de transformação no sueco em "Um Homem Chamado Ove"

    "Um Homem Chamado Ove"
    O feio termo dramédia serve para descrever a mistura de drama e comédia feita nessa produção sueca. O protagonista é aquele tipo com mentalidade de síndico, gente que acredita que o mundo foi feito para elas imporem seus ideais de ordem. Aos poucos, o longa revela o passado de Ove, suas alegrias e tristezas e mostra que por detrás de sua carapaça de durão bate um grande coração. O filme aproveita o tom de crônica descompromissada para tratar também de temas sérios, como imigração e diversidade cultural e sexual. Mesmo que o conjunto seja agradável e divertido, é difícil entender por que escolheram algo tão semelhante a dezenas de sitcoms.

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    Divulgação
    Pai e filha, Winfried/Toni (Peter Simonischek) e Ines (Sandra Hüller) no alemão "Toni Erdmann"
    Pai e filha, Winfried/Toni (Peter Simonischek) e Ines (Sandra Hüller) no alemão "Toni Erdmann"

    "Toni Erdmann"
    A comédia alemã vem acumulando admiração e prêmios desde sua estreia no Festival de Cannes do ano passado. Por meio do conflito de gerações entre pai e filha, a diretora Maren Ade aborda, com fina ironia, alguns motivos recorrentes de queixas no mundo contemporâneo, como a transformação de todos em autômatos, a vulgaridade ou o esvaziamento das relações. A simplicidade com que o filme encadeia as situações, a ausência de maniqueísmo e o trabalho despojado dos atores podem enganar quem só enxerga complexidade nas tramas complicadas. Não é improvável que "Toni Ermann" perca a disputa para filmes mais óbvios, mas quem gosta de ótimo cinema não deve perder a oportunidade de assisti-lo.

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    Veja a lista das outras categorias comentadas por profissionais, críticos e colaboradores da Folha.

    Melhor filme, por Inácio Araujo
    Melhor diretor, por Sergio Alpendre
    Melhor animação, por Sandro Macedo
    Melhor documentário, por Aline Pellegrini
    Melhor documentário de curta-metragem, por Lívia Sampaio
    Melhor roteiro original, por Francesca Angiolillo
    Melhor roteiro adaptado, por Francesca Angiolillo
    Melhor ator, por Guilherme Genestreti
    Melhor atriz, por Teté Ribeiro
    Melhor ator coadjuvante, por Guilherme Genestreti
    Melhor atriz coadjuvante, por Teté Ribeiro
    Melhor fotografia, por Daigo Oliva
    Melhor montagem, por Matheus Magenta
    Melhor direção de arte, por Guilherme Genestreti
    Melhor trilha sonora, por Alex Kidd
    Melhor canção original, por Giuliana Vallone
    Melhor figurino, por Pedro Diniz
    Melhor maquiagem e penteado, por Anna Virginia Balloussier

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