Quatro anos após vencer o Urso de Ouro por "Instinto Materno", o romeno Cãlin Peter Netzer volta a competir pelo maior prêmio do Festival de Berlim com o seu drama psicanalítico "Ana, Mon Amour", que estreou na mostra alemã na sexta (17).

O longa, estruturado em torno de diversas idas e vindas no tempo, reconta a história de um relacionamento entre dois jovens que se conhecem na faculdade de letras e se tornam mutuamente dependentes.

Ana (Diana Cavallioti) sofre de problemas psiquiátricos severos, que datam de sua relação tumultuada com o pai e o padrasto. Toma (Mircea Postelnicu) começa como um rapaz dedicado, mas seu ciúme cresce à medida que Ana se fortalece graças a sessões de psicanálise.

Para completar o caldo freudiano, a própria estrutura narrativa têm como eixo as conversas de Toma com o seu próprio analista, anos depois que ele teve o primeiro encontro com Ana.

"Sempre quis fazer uma história de amor", diz Netzer. "A ênfase na terapia é porque eu queria que as conversas de Toma com o analista nos fizessem entrar na história, e nos colocar no lugar dele", disse o diretor após a exibição.

SEXO E RELIGIÃO

Netzer, expoente da nova onda do cinema romeno, também aproveita para inserir sexo e religião no centro dos conflitos. A explicação do cineasta, mais uma vez, tem um quê psicanalítico: "A igreja é o maior sintoma da neurose. Quando as pessoas estão no limite, é para ela que elas vão. E o padre é um pouco como um terapeuta."

A manhã da sexta (17) também contou com a exibição da animação chinesa "Have a Nice Day", de Liu Jian –primeiro filme do gênero a participar da disputa em Berlim.

A trama de humor ácido traz gângsteres, mafiosos e outros desgarrados que andam por uma China em mutação, iluminada pela luz dos arranha-céus.

"Ana, Mon Amour" e "Have a Nice Day" fecharam a seção competitiva desta edição do Festival de Berlim, que anunciará os premiados na noite deste sábado (18).

O filme brasileiro "Joaquim", exibido sob protesto contra Temer, também concorre ao Urso de Ouro.