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    Oscar

    Documentário: Questões raciais predominam em indicados

    ALINE PELLEGRINI
    EDITORA-ASSISTENTE DE CULTURA

    20/02/2017 12h23

    Se a edição de 2016 do Oscar foi marcada pelo boicote em razão da falta de diversidade étnica na competição, a de 2017 pode ser considerada a da tomada de consciência da Academia, que parece ter prestado atenção à diversidade do cinema e indicou um número recorde de artistas negros. No entanto, nenhuma das categorias reflete mais sobre isso quanto a de melhor documentário. Três dos cinco filmes concorrentes —"Eu Não Sou Seu Negro", "A 13ª Emenda" e "O.J. Made in America"— retratam a questão racial, muitas vezes compartilhando as mesmas imagens icônicas.

    Leia a seguir comentários sobre cada um dos filmes concorrentes na categoria.

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    "Fogo no Mar"

    Divulgação
    Cena do documentário 'Fogo no Mar', de Gianfranco Rosi, que recebeu o principal prêmio no Festival de Berlim
    Cena de 'Fogo no Mar', de Gianfranco Rosi, que recebeu o principal prêmio do Festival de Berlim 2016

    Único estrangeiro da categoria, "Fogo no Mar" não se resume a um simples retrato da crise dos refugiados na Europa. Aqui, são os silêncios que conduzem o filme que transforma a ilha de Lampedusa, na Itália, em uma metáfora de como o velho continente lida com a entrada de centenas de milhares de refugiados. O mais arrebatador, neste filme, entretanto, está na maneira com que o diretor Gianfranco Rosi o conduz, sem utilizar fórmulas, sem música ou narração. É um tapa na cara de Trump e seu decreto anti-imigração.

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    "Eu Não Sou Seu Negro"

    Divulgação
    James Baldwin, cujos textos e entrevistas compõem 'Eu Não Sou Seu Negro', com Medgar Evers
    James Baldwin, cujos textos e entrevistas compõem 'Eu Não Sou Seu Negro', ao lado de Medgar Evers

    "Eu Não Sou Seu Negro" foi feito inteiramente com as palavras de sua figura principal, o escritor James Baldwin (1924-1987). Apesar disso, não é sobre Baldwin que o filme fala. O documentário é construído a partir de entrevistas dadas por ele, cartas e, principalmente, por um livro inacabado, cujo manuscrito é lido por Samuel L. Jackson, que retrata as vidas dos ativistas afro-americanos Medgar Evers, Malcolm X e Martin Luther King Jr., amigos de Baldwin e mortos antes dos 40 anos. Não é à toa que Baldwin foi creditado pelo diretor Raoul Peck como único roteirista: sem suas palavras, intercaladas com imagens feitas ao longo do século passado e dos atuais conflitos, como os de Ferguson, em 2014, o filme não teria potência.

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    "A 13ª Emenda"

    Divulgação
    Cena de "A 13ª Emenda", de Ava DuVernay
    Cena de "A 13ª Emenda", de Ava DuVernay

    A evolução histórica da exploração racial nos Estados Unidos e todos os aparatos legais usados para perpetuar a segregação dos negros é o tema central do filme. Aqui, Ava DuVernay utiliza talking heads, imagens e entrevistas de arquivo para defender um ponto: o início da criminalização dos negros, que começou com a 13ª emenda —ironicamente a que dava liberdade aos escravos—, que evoluiu ao momento atual, com cadeias cada vez mais lotadas decorrentes de inúmeras políticas que buscavam marginalizar os negros.

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    "O.J.: Made in America"

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    Cena de "O.J.: Made in America", dirigido por Ezra Edelman
    Cena de "O.J.: Made in America", dirigido por Ezra Edelman

    São mais de sete horas divididas em cinco capítulos que destrincham, especialmente, a questão racial na vida de O.J. Simpson. Os dois primeiros episódios exploram o conturbado momento de luta contra o racismo nos EUA, do qual O.J. não só era alienado como buscava distância. Causa gastura os dois capítulos seguintes, que retratam o assassinato de sua mulher e de um amigo dela e o julgamento de O.J., principal suspeito do crime. A estratégia dos advogados para livrá-lo da cadeia: transformar sua possível condenação em uma jornada contra o racismo. Apesar da extensa pesquisa de imagens e vídeos tanto de O.J. quanto de acontecimentos da época, o filme, feito para a ESPN, não foge do clássico entrevista + imagens de arquivo e entrega aquilo que foi pedido: um documentário televisivo. Cansam as repetitivas imagens aéreas que não comunicam nada e que servem apenas de bengala para narrações.

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    "Life, Animated"

    Divulgação
    Owen Suskind, principal personagem de 'Life, Animated
    Owen Suskind, principal personagem de 'Life, Animated'

    A única história de superação entre os indicados é o retrato de Owen Suskind, que, aos três anos de idade, se embrenhou em si mesmo, mas conseguiu regredir seu autismo por meio de desenhos da Disney, como "O Rei Leão" e "Aladin". O documentário, enquanto exibe entrevistas com a família do garoto e imagens caseiras de sua infância, acompanha o momento em que um Owen com mais de 20 anos se prepara para sair da casa dos pais para morar sozinho. Apesar de Owen ser um personagem cativante, os momentos mais interessantes do filme são os que transformam sua vida em animação —que, infelizmente, não passam de breves inserts.

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    Veja a lista das outras categorias comentadas por profissionais, críticos e colaboradores da Folha.

    Melhor filme, por Inácio Araujo
    Melhor diretor, por Sergio Alpendre
    Melhor filme estrangeiro, por Cássio Starling Carlos
    Melhor animação, por Sandro Macedo
    Melhor documentário de curta-metragem, por Lívia Sampaio
    Melhor roteiro original, por Francesca Angiolillo
    Melhor roteiro adaptado, por Francesca Angiolillo
    Melhor ator, por Guilherme Genestreti
    Melhor atriz, por Teté Ribeiro
    Melhor ator coadjuvante, por Guilherme Genestreti
    Melhor atriz coadjuvante, por Teté Ribeiro
    Melhor fotografia, por Daigo Oliva
    Melhor montagem, por Matheus Magenta
    Melhor direção de arte, por Guilherme Genestreti
    Melhor trilha sonora, por Alex Kidd
    Melhor canção original, por Giuliana Vallone
    Melhor figurino, por Pedro Diniz
    Melhor maquiagem e penteado, por Anna Virginia Balloussier

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