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    Crítica

    Animação 'Vida de Abobrinha' é afetuosa sem ser piegas

    MARINA GALEANO
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    19/02/2017 02h05

    Icare –ou Abobrinha, como prefere ser chamado– é um menino solitário que passa as horas trancafiado no sótão. Para se distrair, vive empilhando as latinhas de cerveja que a mãe alcoólatra costuma deixar espalhadas por todos os cantos da casa.

    Certo dia, em circunstâncias não muito claras, ela morre num acidente doméstico, e Abobrinha tem de ser levado a um abrigo.

    Esse contexto espinhoso e ao mesmo tempo tão real é o cartão de visitas de "Minha Vida de Abobrinha", animação franco-suíça que traz às telas dos cinemas os sentimentos mais complexos de uma criança por meio de uma perspectiva simples, encantadora, sincera e universal.

    Divulgação
    Minha vida de abobrinha [Ma vie de Courgette, França, Suíça, 2016], de Claude Barras (California Filmes). Gênero: animação ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Abobrinha (à esq.) e sua turma na animação franco-suíça que narra a história de um menino órfão

    Na contramão da busca por uma representação quase perfeita da realidade, o longa inspirado no romance de Gilles Paris ("Autobiographie d'une Courgette") aposta na técnica stop-motion para narrar a comovente jornada do garoto de nove anos.

    Uma ótima aposta, diga-se de passagem. Apesar dos traços rudimentares, os bonecos feitos de massa de modelar denunciam as profundas emoções de seus personagens. Os imensos olhos de Abobrinha, por exemplo, transbordam medo, angústia e desalento. Os tons avermelhados de Simon escancaram sua personalidade explosiva.

    Não por acaso, "Minha Vida de Abobrinha" entrou para a corrida do Oscar ao lado de "Moana", "Zootopia", "Kubo e as Cordas Mágicas" e "A Tartaruga Vermelha".

    Menos badalado, o filme dirigido por Claude Barras se difere também pela disposição em flertar com temas cascudos como abandono, morte, luto e dependência de drogas. Avessa a rodeios ou meias palavras, a narrativa revela histórias incomodamente possíveis, que soam indigestas numa animação.

    O equilíbrio, além da estética, vem da perspectiva. Essas histórias são sempre contadas a partir do olhar ingênuo e descomplicado da criança. Com afeto, mas sem pieguice; com drama, mas sem melodrama; com soluções, mas sem grandes explicações. Acima de tudo, com muita sensibilidade.

    *

    MINHA VIDA DE ABOBRINHA (Ma vie de Courgette)
    DIREÇÃO Claude Barras
    PRODUÇÃO Suíça/França, 2016, 10 anos
    QUANDO: em cartaz

    Edição impressa

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