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    Crítica

    Ao ficcionalizar vidas de judeus 'loucos', autor chama à tolerância

    ADRIANO SCHWARTZ
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    25/02/2017 02h12

    MESHUGÁ (bom)
    AUTOR Jacques Fux
    EDITORA José Olympio
    QUANTO: R$ 32,90 (196 págs.)

    Em "Meshugá - Um Romance sobre a Loucura", Jacques Fux alterna pequenos textos quase ensaísticos, de uma ou duas páginas, com perfis ficcionalizados de oito personagens reais que não possuem absolutamente nada em comum exceto o fato de serem judias e de serem associadas, pelas mais diversas razões, a variados tipos e formas de insanidade.

    Ao colocar, em sequência, as histórias de Woody Allen, Bobby Fisher, Ron Jeremy, Sarah Kofman, Sabbatai Zevi, Otto Weininger, Grisha Perelman, Daniel Burros e suas supostas loucuras, misturadas a fortes doses de preconceito, sofrimento, ironia e agressividade, o autor cria um efeito evidentemente perturbador. Nesse sentido, seu projeto é forte e bem-sucedido.

    Eric Gaillard/Reuters
    Director Woody Allen poses during a photocall for the film "Cafe Society" out of competition, before the opening of the 69th Cannes Film Festival in Cannes, France, May 11, 2016. REUTERS/Eric Gaillard ORG XMIT: EGA03
    O cineasta Woody Allen, um dos perfilados em 'Meshugá', durante festival de Cannes

    O último capítulo do volume torna o jogo ainda mais interessante, ao inserir o próprio autor como personagem que sofre as consequências do livro que escreveu: "Ele enlouqueceu junto com seus personagens". Ninguém passa incólume por tal acúmulo de memória e distorção.

    Na leitura isolada dos diferentes perfis, contudo, o resultado é desigual: em alguns casos (Ron Jeremy ou Sarah Kofman) tudo funciona muito bem, em outros (Woody Allen, por exemplo) nem tanto.

    Outro pequeno incômodo que vale a pena apontar é que certas construções aparecem demasiadas vezes no texto e terminam por irritar o leitor –e o leitor contemporâneo, como todo aquele que resiste, já é sempre um ser muito irritado.

    Meshugá: Um Romance Sobre A Loucura
    Jacques Fux
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    Exemplo dessas construções são as orações muito curtas que repetem três vezes um mesmo elemento: "A culpa é da maldita guerra. Da maldita Shoá. Da maldita humanidade" ou "Ela se enxerga como uma francesa. Como uma católica. Como alguém que renegou...".

    Nada disso, contudo, altera o fato de que, nesses tempos de tanta intolerância, um livro como "Meshugá" é mais do que necessário.

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