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    Para discutir a violência, peça adapta obra de 'velho terrível' do teatro inglês

    MARIA LUÍSA BARSANELLI
    DE SÃO PAULO

    01/03/2017 17h00

    Lenise Pinheiro/Folhapress
    Sao Paulo, SP, Brasil. Data 28-02-2017. Espetáculo Material Bond. Atriz Fernanda Azevedo. Teatro Oficina Oswald de Andrade.
    A atriz Fernanda Azevedo e o músico Eduardo Contrera (ao fundo, atrás da tela) em 'Material Bond'

    Para falar da violência, a Kiwi Companhia de Teatro decidiu investigar não as peças, mas o pensamento de um "velho terrível" do teatro inglês.

    Em "Material Bond", o grupo parte de análises, poemas e cartas do dramaturgo britânico Edward Bond, muitas das quais discutem o ofício teatral. O espetáculo, que teve sessões no Festival Cultura Inglesa no ano passado, inicia temporada nesta quinta (2).

    Apesar de pouco conhecido no Brasil, Bond, 82, tornou-se um dos expoentes do teatro britânico, tendo escrito mais de 50 peças. Sempre foi um provocador e chegou a recusar que sua obra fosse encenada em grandes teatros.

    Sua segunda peça, "Saved" (1965), teve grande papel no fim da censura prévia na Inglaterra. A montagem retrata uma juventude frustrada e mostra numa das cenas um bebê apedrejado até a morte. Foi proibida, mas Bond se recusou a alterar o texto e a produção acabou processada. O caso gerou protestos, e a repercussão levou ao término da censura três anos mais tarde.

    Não é a primeira vez que a Kiwi se debruça sobre a violência ou a obra de Bond –ambos estavam, por exemplo, em "Morro Como um País" (2013).

    Em "Material", o grupo busca um diálogo entre questões abordadas pelo autor e o contexto brasileiro, em especial no que diz respeito à tirania de Estado. Mostra imagens de Hitler e outras do Bope, o batalhão de operações especiais da polícia do Rio. É um diálogo com o documental, "retratos da realidade que despertam sensações", diz o diretor Fernando Kinas.

    A relação com Bond também está na forma. Não se busca uma representação tradicional de personagens, mas uma análise do que é mostrado. Algo próximo do chamado distanciamento brechtiano: deixar claro que se trata de uma obra de arte, uma ilusão.

    Assim, a atriz Fernanda Azevedo fica durante quase toda a apresentação sobre um palquinho colocado no meio da plateia. Fala, por exemplo, do "teatro da razão" de Bond, feito de análise e imaginação.

    É a ideia de que, se o mundo é repleto de violências sem sentido, "precisamos inventar algo que seja uma resposta a isso". "Por isso a imaginação seria mais lógica da razão", afirma Kinas.

    Sobre o palco real, há uma tela translúcida na qual são projetadas imagens diversas –muitas em referência à violência. Ao fundo, Eduardo Contrera pontua as falas da atriz com música. "Mas não é um diálogo convencional, que cria um clima. Eu modifico umas notas [como em "Wish You Were Here", do Pink Floyd], interrompo cenas", comenta o músico.

    *

    MATERIAL BOND
    QUANDO qui. e sex., às 20h; sáb., às 18h; até 25/3
    ONDE Oficina Cultural Oswald de Andrade - anexo, r. Três Rios, 363, tel. (11) 3221-4704
    QUANTO grátis
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