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    crítica

    Thriller 'O Bosque Soturno' é fiel ao estilo de Neil LaBute

    VALMIR SANTOS
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    05/03/2017 02h09

    Lenise Pinheiro/Folhapress
     Sao Paulo, SP, Brasil. Data 31-01-2017. Espetáculo O Bosque Soturno. Atores Guta Ruiz (roupa preta) e Pedro Bosnich. Teatro Eva Herz. Foto Lenise Pinheiro/Folhapress.
    Os atores Guta Ruiz e Pedro Bosnich em apresentação no Teatro Eva Herz

    Nada de novo na figura masculina escarrada do machismo falante em nome da falsa moral e da família. Algo de novo no retrato da mulher dona de seu nariz, intelectual bem-sucedida, mãe e esposa que não domestica o desejo -até a exumação de um crime abafar a assertividade feminista.

    O espetáculo "O Bosque Soturno" é fiel ao estilo do dramaturgo e roteirista Neil LaBute. O diálogo mordaz, o inconsciente destravado e a fisgada cinematográfica de suas peças são legíveis na versão brasileira de "In a Forest, Dark and Deep" (2011, numa floresta escura e profunda, ao pé da letra).

    A tradução de Flavio Moraes e a adaptação do também diretor Otávio Martins calibraram o adjetivo do título com a atmosfera de thriller.

    Betty é chefe de departamento numa faculdade de artes. Casada, com filhos, certa noite ela vai ao chalé que já frequentou com sua família e há pouco o alugou a um aluno da mesma instituição. Uma vez vago, pede ao irmão, o marceneiro Bobby, para ajudá-la a organizar livros, objetos e afins visando novo inquilino.

    Eles julgam conhecer bem um ao outro. Afinal, o pai os ensinou o quanto "a verdade dói". Temos o operário ressentido e a professora que prefere a via do prazer. Naquela noite chuvosa, contudo, a tentativa de colocar a casa em ordem vai transformá-los de modo perene.

    Guta Ruiz é desprendida da presunção do perfil de pedagoga e gestora. Do espírito pessoal solar ao lado escuro, a transformação convence. O jeito descolado com que a personagem encara a aspereza do irmão muda radicalmente com a vertigem experimentada quando pressionada a religar os fatos em que se envolveu.

    Pedro Bosnich mostra-se refém do papel de um homem estereotipado pela ignorância. Pouco explora a ambiguidade de quem é talhado pela força braçal e, apesar do rancor, surpreende ao dobrar a mulher a quem inveja, admira e ama fraternalmente.

    A descompensação na dupla provoca desvios ao naturalismo de TV, seja na leveza ou na tensão dramáticas. Paradoxo de uma encenação que endossa a penumbra no desenho de luz e as paredes de caixotes de madeira, vazadas, no cenário. Infiltrações bem-vindas à linguagem realista da obra de LaBute.

    *

    O BOSQUE SOTURNO
    QUANDO: qui. e sex., às 21h; dom., às 19h; até 24/3
    ONDE: Teatro Eva Herz (av. Paulista, 2073, tel. (11) 3170-4059)
    QUANTO: R$ 40; 16 anos

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