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    TV Brasil pode se tornar a 'primeira tela' de filmes patrocinados

    DANIEL CARVALHO
    GUSTAVO URIBE
    DE BRASÍLIA
    GABRIELA SÁ PESSOA
    DE SÃO PAULO

    08/03/2017 02h05

    O governo de Michel Temer negocia incluir nos novos contratos de patrocínio de empresas públicas uma cláusula que garanta direito de transmissão de filmes e espetáculos pela TV Brasil.

    A EBC (Empresa Brasil de Comunicação), gestora dos veículos de comunicação federais, iniciou conversas com Petrobras, Caixa Econômica e Banco do Brasil para que atrações culturais e esportivas que recebam seus recursos possam ser exibidas no canal.

    Hoje cerca de 50% da programação da TV Brasil é de conteúdo reprisado. A expectativa é que, até o final do ano, o volume caia para 40%.

    O orçamento de 2017 prevê R$ 9 milhões em investimentos para os 11 veículos da EBC –dois canais, oito rádios e uma agência de notícias.

    Avener Prado/Folhapress
    SAO PAULO, SP, BRASIL, 28-10-2013: Roda Viva com escritor Paul César de Araújo, autor da biografia do cantor Roberto Carlos. Fotos no estudio D da TV Cultura em São Paulo. (Foto: Avener Prado/Folhapress, ILUSTRADA) ***EXCLUSIVO FOLHA***
    O programa 'Roda Viva' com escritor Paul César de Araújo em 2013

    O valor é considerado baixo, e a EBC não pode receber patrocínio. Por isso, aposta em parcerias com outros canais e empresas públicos.

    "Isso fortalecerá a EBC e permitirá que tenhamos uma cara nova", diz o presidente da estatal, Laerte Rímoli.

    Com a Petrobras, a ideia é transmitir apresentações e fazer programas jornalísticos sobre projetos patrocinados pela estatal, como a Petrobras Sinfônica e o Grupo Corpo.

    A EBC também negocia com a companhia o direito de veicular gratuitamente filmes patrocinados após o seu lançamento no circuito nacional.

    O desejo do governo federal é que a TV Brasil se transforme em uma "primeira tela de exibição" desses longas na TV aberta, ainda que junto das emissoras comerciais. Hoje, a TV pública precisa pagar pela exibição.

    O comando da EBC teve uma reunião no mês passado com o presidente da Petrobras, Pedro Parente, na qual foi apresentada a proposta.

    A estatal ainda analisa a viabilidade da proposta, mas avalia que ela "geraria ganhos de imagem e visibilidade" para a companhia e os projetos.

    A ideia da empresa é estender ainda sua programação ao esporte, com jogos de futebol feminino patrocinados pela Caixa Econômica, que não costumam ser exibidos em canais comerciais.

    PERMUTA

    A TV Brasil está negociando parcerias também com órgãos fora da esfera federal.

    Na quarta (8), os comandos da EBC e da Fundação Padre Anchieta, ligada ao governo do Estado de São Paulo, reúnem-se para acertar a permuta de programas entre a TV Brasil e a TV Cultura.

    De acordo com Rímoli, a Cultura deve oferecer o programa de entrevistas "Roda Viva" e o cultural "Metrópolis" para exibição federal.

    Já a TV Brasil oferecerá o musical "Samba de Gamboa" –já exibido pela Cultura– e o jornalístico "Caminhos da Reportagem". Outros programas devem ser negociados, já que o acordo de cooperação deve ser fechado em torno de horas de programação.

    "Não queremos fazer uma coisa pontual. Queremos fazer um acordo de cooperação útil para as duas empresas. Eles também estão na maior dificuldade. Conseguem ainda ter programação própria porque têm Lei Rouanet, que a EBC não tem", diz Rímoli.

    Produtores veem proposta com descrença

    A hipótese de condicionar o patrocínio de um filme ao licenciamento em primeira mão para a TV Brasil foi recebida com descrença, e até com risadas, por distribuidores e produtores de cinema. Eles dizem que a proposta pode funcionar para obras alternativas, mas não para as comerciais.

    A exclusividade de exibição é uma das exigências dos canais nas negociações.

    O mercado considera válido que a TV Brasil possa exibir as produções como contrapartida de investimentos de estatais. Mas só em suas reprises –em média, cinco anos após a estreia em salas.

    A Petrobras, que foi importante patrocinador do cinema nos anos 1990, vem diminuindo o investimento.

    Em 2010 e em 2011, patrocinou 49 e 42 títulos, respectivamente, com aportes na casa dos R$ 20 milhões. Em 2012, foram sete. Em 2016, oito longas e R$ 4,4 milhões.

    Hoje, os recursos vêm majoritariamente do Fundo Setorial do Audiovisual, gerido pela Agência Nacional do Cinema e captado dentro do próprio setor, além de dedução via leis de incentivo. Cada investidor é coprodutor, ou "sócio", de um filme e tem participação nos lucros.

    O licenciamento para a TV é uma barganha à parte dos contratos de produção. Por isso, condicionar o patrocínio à exibição prioritária pela TV pública beneficia a TV Brasil, mas, segundo cineastas, prejudica o poder de negociação dos outros acionistas com as emissoras.

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