Chanel

O céu de Paris permaneceu nublado nos últimos sete dias, mas abriu a tempo de dar passagem para o lançamento de um foguete que, embora tenha uma curta missão de perambular por seis meses no espaço da moda mundial, produziu a imagem mais excitante da semana de Paris.

No centro do Grand Palais, às margens da avenida mais famosa da cidade, a Champs-Élysées, a marca francesa Chanel construiu uma estação espacial para apresentar sua coleção de inverno 2018.

Em meio aos convidados, o projétil –pintado com os "Cs" cruzados que formam o logo da grife– serviu de pano de fundo para a apresentação, espécie de compilado dos anos 1960, só que totalmente revisto pelas mãos do estilista Karl Lagerfeld.

Ao som de "Rocket Man", de Elton John, mulheres-foguete trajadas para uma viagem à Lua passearam pela área restrita da estação espacial com uma mistura de estilo disco e futurista.

Os vestidos com a foto de um astronauta impressa viraram desejo imediato das garotas que assistiam ao desfile, assim como as pesadas botas lunares forradas com um brilho prateado.

Os ateliês da Lésage, empresa cujo controle acionário é da Chanel e faz os bordados mais luxuosos da Europa, cravaram centenas de paetês e lantejoulas nos conjuntos pretos e leves para a noite.

Por todo o comprimento dessas peças havia um universo de constelações e nebulosas formadas pelo brilho dos aviamentos. São, sem dúvida, os efeitos de luz mais interessantes desta temporada.

Os casacos de tweed e os tailleurs, parte do repertório da fundadora da etiqueta, Gabrielle "Coco" Chanel (1883-1971), não foram esquecidos, mas, desta vez, guardam o apurado olhar urbano que a marca apresenta desde 2014, quando pincelou o "streetwear" de luxo em suas roupas.

Óculos enormes e espelhados remetiam ao capacete dos astronautas. Nas mãos, entre as várias propostas de enormes bolsas felpudas, o destaque ficou para uma pequena, com o formato de Saturno.

E cada segundo foi contado pelos convidados no momento derradeiro do desfile, quando a estrutura presa ao foguete se abriu e a fumaça tomou conta do Grand Palais.

Num truque de subir apenas a parte inferior do projétil, a nave Chanel conseguiu levantar voo sob a mira das centenas de câmeras de celular apontadas para ela.

Lagerfeld sabe que lida com uma grife de cifras estratosféricas e que é um dos líderes de um mercado cujo faturamento é proporcional ao alcance de uma foto compartilhada na internet.

Com a descoberta de sete exoplanetas e o anúncio dos primeiros voos comerciais para a Lua em 2022, a foto ganha mais impacto.

É como se, antes da descoberta de vida extraterrestre e da possibilidade de viagens pelo espaço sideral, a Chanel já preparasse o traje mais luxuoso para a aventura.

	Benoit Tessier/Reuters
	Foguete foi 'lançado' durante o desfile da Chanel ao som de 'Rocket Man', de Elton John