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    Com sexo e sangue, autor conta saga de 300 anos da família Románov

    MAURÍCIO MEIRELES
    DE SÃO PAULO

    11/03/2017 02h00 - Atualizado às 22h05
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    Yale/Divulgação
    ROMANOV - Nicolau II cacando em Spala, 1912 Credito Divulgacao/Yale
    O czar Nicolau 2º (à dir.) depois de caçar um cervo, em 1912

    Quem chega ao fim do catatau de quase mil páginas do historiador britânico Simon Sebag Montefiore sobre a casa real dos Románov não pode deixar de pensar: "Game of Thrones", comparado, parece uma história da carochinha.

    São páginas de guerras, assassinatos, sexo, sadismo, misticismo, parricídios, infanticídios, torturas, traições, perversão, santos, homens que voltam dos mortos, anões que saem nus de dentro de bolos, línguas arrancadas e cabeças decapitadas que ganham beijos na boca.

    No ano do centenário da Revolução Russa, o autor, que já havia ficado famoso por "Stálin - A Corte do Czar Vermelho", volta com "Os Románov", em que conta os 304 anos do domínio da família no país -de Miguel Románov a Nicolau 2º (1894-1917), morto pelos bolcheviques.

    Ainda que o livro priorize a narrativa factual em vez da análise, Montefiore diz ter buscado os Románov para refletir sobre os efeitos do poder absoluto na personalidade do homem.

    "Sou um historiador do poder. Mas sempre busco ver como política e personalidade se relacionam. E essa análise [dos efeitos do poder] também é útil para os líderes de países democráticos", diz o Montefiore.

    "No caso do poder absolutista, um dos efeitos é a destruição das relações familiares. Os czares renunciaram muitas vezes ao afeto familiar em nome do poder."

    O historiador entrega uma pesquisa com muitos detalhes -muitos mesmo, daqueles que, se estivessem em um livro de ficção, alguém diria serem inverossímeis.

    Como a cena em que Pedro, O Grande (1672-1725), manda decapitar sua amante. Segurando a cabeça cortada pelos cabelos, o czar dá uma aula de anatomia à plateia -e se despede da moça com um beijo na boca.

    Os Románov

    Ainda mandou embalsamá-la e guardou-a em seu gabinete de curiosidades -uma sala cheia de itens exóticos que o monarca tinha.

    Pedro, aliás, é um dos maiores personagens do livro. Ele nomeou seu grupo de cortesãos mais próximos como Sínodo de Tolos e Bobos da Corte Totalmente Fanfarrões e Totalmente Bêbados.

    Nas festas de arromba do sínodo, cada cortesão tinha um cargo cujo nome era um trocadilho sexual. E era proibido de sair cedo.

    Pedro vestia anões de velhos ou os mandava sair nus de dentro de bolos. Também fantasiava os gigantes de bebês (seu gigante predileto, aliás, foi embalsamado e guardado no gabinete de curiosidades).

    Há outros personagens à altura: Catarina, a Grande (1729-1796), primeira mulher a governar a Rússia por seus próprios méritos, e seu amante, Grígori Potiômkin, com quem se casou em segredo. Ou Ivan, o Terrível (1530-1584) -conhecido pela crueldade, matou até o filho.

    Bridgeman/Divulgação
    ROMANOV -; Nicolau II e Alexandra em Tobolsk, 1917, Credito Bridgeman/Divulgacao;
    Nicolau 2º e a czarina Alexandra em 1917

    Uma das novidades do livro é a correspondência erótica entre Alexandre 2º (1818-1881) e sua amante. "São as cartas mais explícitas de um líder político de que se tem notícia. Eles anteciparam posições sexuais que só devem ter sido inventadas há uns dois anos!", ri Montefiore.

    De fato, a correspondência faria corar as velhinhas da igreja ortodoxa russa. "[Sua concha] ficou louca, se prendendo a mim como uma sanguessuga", escreveu o rei.

    Os Románov - 1613-1918
    Simon Sebag Montefiore
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    Quanto mais perto da derrocada dos Románov, mais detalhado -e terrível- fica o relato. Os últimos dias de Nicolau 2º com a família, até o momento em que os bolcheviques fuzilam mesmo as crianças, são descritos em cada tiro, grito e choro.

    "[A Revolução] foi uma tragédia terrível que não justifica suas conquistas. Os bolcheviques sabiam do crime que cometeram contra os Románov, por isso Lênin tentou se dissociar da decisão. Mas a decisão de matar as crianças foi totalmente dele", diz o autor.

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