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    Moda

    Com pouco dinheiro, SPFW começa com muitos novatos e crise industrial

    PEDRO DINIZ
    DE COLUNISTA DA FOLHA
    LUIGI TORRE
    DE COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    13/03/2017 02h00

    "Não vai ter gritaria", diz Paulo Borges, 54, à Folha. Fundador da São Paulo Fashion Week, que vai desta segunda (13) até sexta (17), ele teve de se adequar à nova realidade do mercado para botar de pé esta edição do evento.

    Com um varejo deficitário, marcas em situação financeira limítrofe e desgaste nos antigos modelos de apresentação, focados em imagens que nunca chegaram às lojas, a estação virá sem festas, mostras ou instalações, os tais gritos citados por Borges. O foco será a passarela, a um custo estimado de R$ 10 milhões.

    Na prática, os quase R$ 3 milhões a menos –em relação ao ano passado– significam um retorno aos anos 1990, quando o evento nasceu e apostava em nomes sem representatividade no mercado, mas ricos em ideias criativas.

    Ricardo Borges/Folhapress
     Rio de Janeiro, Rj, BRASIL. 07/03/2017; Retrato do estilista Oskar Metsavaht e modelo que apresentam as roupas da Osklen que estarão na SPFW. ( Foto: Ricardo Borges/Folhapress)
    Modelo mostra peças da Osklen desenhadas por Oskar Metsavaht (sentado, à direita)

    Nesta edição, das 41 marcas escaladas –boa parte chamada de última hora para suprir desistências como as de Ronaldo Fraga e Reinaldo Lourenço–, 15 nunca pisaram em uma grande passarela. As grifes Maison Alexandrine, Sissa e Two Denim têm menos de um ano. "É um momento singular porque unimos grandes e pequenos", diz Borges.

    Singular também do ponto de vista da crise na indústria têxtil, fruto do sucateamento das fábricas e da concorrência asiática, que se arrasta desde o início do século. Em marcas como Osklen, Ellus e Gig Couture houve atrasos recentes na entrega de pedidos feitos a fornecedores, do fio à roupa.

    A Osklen dará preferência a tecidos mais baratos, cuja produção é própria ou tem entrega controlada pela Alpargatas, grupo dono da grife fundada por Oskar Metsavaht, 55. Por isso, a coleção que será desfilada hoje trará menor diversidade de materiais, como tricoline, sarja e ecológicos. "Precisamos focar o que fazemos melhor e ser mais eficientes", diz Metsavaht.

    O foco serve também para resgatar elementos essenciais da grife: o design minimalista, as modelagens esportivas e a influência da natureza por meio de cenários paradisíacos. Desta vez, o cenário é a paisagem gelada da Islândia.

    Mesmo tendo viajado para tão longe, Metsavaht acredita que precisa olhar mais para o país. "Precisamos recuperar nossa identidade para sermos fortes mais uma vez. E isso é uma crítica a mim mesmo."

    Foi o que tentou Gina Guerra, dona da marca mineira Gig. Para aumentar o volume de peças na loja, ela terceirizou parte da produção. Não deu certo. "O agravamento da crise defasou tecelagens e reduziu a qualidade. Prazos não foram cumpridos", diz.

    ACELERADO

    O jovem estilista baiano Vitorino Campos, 29, teve de aprender a lidar com os movimentos do mercado desde que assumiu o estilo da grife Animale, que abre este primeiro dia de SPFW com desfile para 120 pessoas na loja da marca, na rua Oscar Freire. Ele também mantém sua marca própria na temporada.

    O desfile mostrará uma coleção "baseada em traços do imaginário italiano, do [pintor] Alberto Giacometti (1901-1966) e os tons de amarelo do céu da Toscana à alfaiataria".

    Saias curtas combinadas a camisas sem botão, que ganham babados românticos nas golas, assim como padrões de cobra, carregam elementos do guarda-roupa das italianas. O resultado é uma coleção feita para vender.

    O momento de crise, Campos diz, é bom porque é na incerteza que surgem modelos inovadores. "Vejo como um período de liberdade, porque as regras do 'pode isso e não pode aquilo' caíram por terra. Daqui a dez anos teremos consolidado um novo padrão de gestão criativa para as grifes. Vamos rir desse sofrimento."

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    DESFILES DESTA SEGUNDA (13)
    10h Animale
    13h Uma por Raquel Davidowicz
    17h30 João Pimenta
    19h Lilly Sarti
    20h Osklen

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    43ª SP FASHION WEEK
    QUANDO de seg. (13) a sex. (17)
    ONDE Fundação Bienal de São Paulo, parque Ibirapuera
    QUANTO fechado para convidados

    Marcus Leoni/Folhapress
     SAO PAULO, SP, BRASIL, 09.03.17 17h Vitorino Campos, estilista da Animale, e modelo usando roupa da grife, que estará na SPFW. (Foto: Marcus Leoni / Folhapress, ILUSTRADA)
    Look da grife Animale criado por Vitorino Campos, à direita
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