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    Alemã apresenta em São Paulo versão teatral de filme de Fassbinder

    MARIA LUÍSA BARSANELLI
    DE SÃO PAULO

    15/03/2017 02h10

    Quando retornou ao seu país em 2009, após uma temporada na Holanda —onde se formou na Escola de Artes de Amsterdã e trabalhou como diretora teatral—, a alemã Susanne Kennedy diz ter se sentido como uma estrangeira em sua própria terra.

    "Na Alemanha, os atores aprendem uma forma de falar e gesticular especial [empostada], enquanto na Holanda eles falam de uma forma mais direta e pessoal", afirma a encenadora à Folha, por e-mail. "Isso me irritou muito no começo –e ainda me irrita."

    Assim, para adaptar ao teatro "Por que o Sr. R. Enlouqueceu", filme de 1970 de Rainer Fassbinder, buscou uma sensação mais "cinematográfica" daquelas vozes no palco. "[A ideia] é ouvir nuances, suspiros e sussurros."

    Na peça, que terá sessões na MITsp - Mostra Internacional de Teatro de São Paulo a partir desta quarta (15), os atores da Münchner Kammerspiele não falam no palco. Kennedy gravou as falas com vozes de amadores, e o elenco dubla em cena o texto, executado em playback.

    "O que realmente me interessou no filme é como ele coloca uma lupa na vida cotidiana, no mundano que é nossa vida", diz a diretora –na trama, o dia a dia remediado e entediante do personagem-título o leva à loucura. "Eu queria mostrar no palco uma conversa sobre o 'nada'."

    Em cena, os atores se colocam numa caixa cênica asséptica e cobrem seus rostos com máscaras de silicone. Apesar da artificialidade, Kennedy considera seus personagens bastante humanos, criando uma linguagem hiper-realista. "Sinto que eles mostram uma grande vulnerabilidade."

    As atuações, diz ela, se distanciam do dramático para emular o clima do filme de Fassbinder, cujo roteiro foi improvisado e depois escrito.

    Também há uma plasticidade em cena, e o palco lembra uma instalação artística. De fato, a diretora busca em suas montagens uma proximidade com as linguagens do cinema e das artes plásticas. "Os limites do teatro têm que se expandir muito mais. O teatro é, frequentemente, muito conservador e tedioso."

    A técnica da encenadora estará na sua próxima peça, que estreia em 30/3 em Munique: "As Virgens Suicidas", versão do romance de Jeffrey Eugenides, trama já adaptada ao cinema por Sofia Coppola. "Desta vez usamos uma voz para tudo, gravada por uma atriz. Mexemos nessa gravação, que agora soa como uma voz entre o feminino e o masculino."

    Julian Baumann/Divulgação
    Quarta MITsp Mostra Internacional de Teatro de Sao Paulo Susanne Kennedy FOTO Julian Baumann/Divulgacao ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    A diretora alemã Susanne Kennedy

    Kennedy, 39, é uma das poucas encenadoras de destaque num universo —o do teatro alemão— ainda dominado por homens. "Sinto falta de diretoras que ousem revolucionar o teatro e façam com que suas vozes sejam ouvidas."

    Neste ano, ela passa a integrar a equipe artística do Volksbühne, importante teatro berlinense conhecido por sua veia experimental.

    Mas o anúncio do time, feito em 2015, causou polêmica, com críticas de que a escolha teria sido comercial. À exceção de Kennedy, ninguém vem do teatro, mas das artes plásticas ou da dança. A direção ficará a cargo do belga Chris Dercon, ex-diretor da Tate Modern. Ele substitui Frank Castorf, desde 1992 na casa.

    Kennedy diz ter se incomodado, de início, com as críticas. "Mas Berlim não é mais a mesma, e é hora de novas formas de teatro. É importante me sentir livre para fazer meu trabalho do meu jeito."

    *

    POR QUE O SR. R. ENLOUQUECEU?
    QUANDO qua. (15) a sex. (17), às 21h
    ONDE Sesc Pinheiros, r. Paes Leme, 195, tel. (11) 3095-9400
    QUANTO R$ 20 (esgotado)
    CLASSIFICAÇÃO 14 anos

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