PEDRO DINIZ
COLUNISTA DA FOLHA
LUIGI TORRE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Numa temporada em que questões comerciais se sobrepuseram à lógica de transmitir mensagens na passarela, ainda há estilistas dispostos a pensar as roupas para além das cifras que geram.

Na volta da Apartamento 03 à São Paulo Fashion Week, o estilista mineiro Luiz Cláudio parte da fábula "O Visconde Partido Ao Meio", de Italo Calvino, para falar sobre separatismo e união.

"Sempre trabalhei com temas muito pessoais, mas, com o mundo tão dividido, sinto necessidade de abordar o assunto", diz. Seu exercício é uma espécie de recorte e cole. "Usei diversas técnicas de costura para deixar pesados os tecidos leves e vice-versa."

Peças também foram talhadas ao meio e reconstruídas. "Tem vestido com perna de calça, vestido com jaqueta, tudo numa coisa só", revela Luiz, cuja coleção almeja abolir a linha divisória entre o comercial e o conceitual.

"Quero entender o que é bom junto e o que é bom separado." A resposta ele diz ainda não ter, mas acredita que o questionamento já é uma reflexão bem-vinda.

ORGULHO NACIONAL

Outra mineira que passa a se apresentar na SPFW, Fabiana Milazzo sentiu necessidade de dar sentido maior à sua moda festa. Seu desfile de estreia, nesta quarta (15), terá como tema a natureza e a cultura brasileiras, e contará com a parceira de três ONGs responsáveis por incentivar o artesanato nacional.

Do trabalho conjunto com o Instituto Tecendo Itabira, de Ronaldo Silvestre, que treina e qualifica mulheres para a produção de peças artesanais, Milazzo criou peças orgânicas e texturizadas –referência à obra de Niemeyer.

Com a ONG Ação Moradia, focada na profissionalização de mulheres rendeiras, ela elevou os jeans e moletons ao patamar de luxo. A seda, chave na confecção dos vestidos de festa, também está alinhada à postura de produção consciente.

Todos os fios do tecido foram fornecidos pelo projeto Casulo Feliz, um dos principais produtores de seda sustentável no país e fornecedor de marcas como Ronaldo Fraga e Osklen.