• Ilustrada

    Tuesday, 30-Apr-2024 02:23:25 -03

    SPFW

    Para questionar pudor, À La Garçonne põe corpos à mostra na passarela

    PEDRO DINIZ
    COLUNISTA DA FOLHA
    LUIGI TORRE
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    16/03/2017 15h54

    Rodrigo Moraes/Futura Press
    SÃO PAULO,SP,16.03.2017:SPFW-À-LA-GARÇONNE - Desfile da grife À La Garçonne durante a edição N43 Outono/Inverno 2017 do São Paulo Fashion Week (SPFW), em São Paulo (SP), nesta quinta-feira (16). (Foto: Rodrigo Moraes /Futura Press/Folhapress) *** PARCEIRO FOLHAPRESS - FOTO COM CUSTO EXTRA E CRÉDITOS OBRIGATÓRIOS ***Restrição:*** PARCEIRO FOLHAPRESS - FOTO COM CUSTO EXTRA E CRÉDITOS OBRIGATÓRIOS *** SPFW-À-LA-GARÇONNE
    Desfile da La Garçonne na SPFW

    Marca de Alexandre Herchcovitch e seu marido Fábio Souza, a À La Garçonne fez de seu desfile um manifesto pró-liberdade sexual e amor livre. A mensagem podia ser lida nas estampas com os dizeres "I Love You", "Metalovres", "BDSM" e "No Lovers Allowed", mas não somente.

    Era nos looks de lingeries românticas com acessórios fetichista, a exemplo dos arreios de cavalo feitos de couro, referência ao sadomasoquismo, que o tema se fazia mais estridente. Transparências, tecidos de tela e aberturas estratégicas, como recortes circulares logo abaixo da cintura, também contribuem para a proposta da coleção.

    Em temporadas passadas, a À La Garçonne ficou conhecida por recuperar e reciclar itens garimpados em brechós ao redor do mundo. Nesta estação, o vintage é coadjuvante e as referências são mais próximas aos elementos marcantes das coleções antigas de Herchcovitch, quando ainda assinava sua grife homônima.

    Peças já características da grife, como as parcas militares e os moletons esportivos, são usadas para sublinhar a questão do corpo em evidência. Suéteres sobre nada além de cuecas, jaquetas sobre camisolas falam desse jogo de esconde e revela carregado de significados.

    Ao final do desfile, houve uma série de vestidos pretos, usados por um batalhão de meninas negras. A última modelo estaria completamente nua não fosse a fina camada de tecido, que apesar de a cobrir deixou à mostra sua intimidade.

    "Existe muito tabu sobre o corpo nu e é algo que já não faz muito sentido", diz a modelo Bárbara Valente (20), que vestiu o look em questão. "Poder contribuir para mudar esse pensamento me deixa muito feliz."

    Na passarela também havia vários garotos com "jockstraps", as cuecas que deixam as nádegas de fora e são comuns no ambiente esportivo como proteção à prova de impacto nos testículos. Um dos modelos masculinos, aliás, usou uma roupa de tela azul que mostrava uma parte de sua genitália.

    Nos bastidores, Herchcovitch explicou que o fato de mostrar as partes íntimas das meninas e dos meninos tem a ver com a ideia de aceitação. "Há muitos pudores em todo o lugar, principalmente sobre o corpo masculino", diz.

    Se a moda quer mesmo assumir o discurso pró-diversidade, perder o pudor sobre o corpo é o primeiro passo. O assunto é urgente, o que explica a imagem forte, agressiva até, com que Herchcovitch e Souza comunicam que toda as formas de amor e corpos valem a pena.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024