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    SPFW

    No último dia da semana de moda, desfiles costuram crise na passarela

    PEDRO DINIZ
    COLUNISTA DA FOLHA
    LUIGI TORRE
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    18/03/2017 00h30

    Eduardo Anizelli/Folhapress
    SAO PAULO, SP, BRASIL, 17-03-2017: Desfile da grife AMAPO, como parte da SPFWN43 outono inverno 2017, na sala Oca - Bienal do Parque do Ibirapuera, em Sao Paulo. (Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress, ILUSTRADA)
    Modelos desfilam com cabelos trançados na SPFW, pela Amapô

    De mãos atadas a uma crise que se arrasta e parece não ter fim, os estilistas e as marcas que desfilaram no último dia da São Paulo Fashion Week fizeram críticas à moda e a um sistema que, segundo a Amapô, está mais para circo.

    Modelos apresentaram propostas que remetem à roupa dos palhaços -há, por exemplo, bolas impressas nos conjuntos jeans e culotes nas calças-, aos figurinos de Charles Chaplin e ao cantor Klaus Nomi, que inspirou a fase "Ashes to Ashes", de David Bowie (1947-2016).

    Em uma das entradas mais marcantes desta temporada, duas modelos muito parecidas e com os cabelos entrelaçados desfilaram na passarela, no que parecia ser uma referência a "Xipófagas Capilares", performance histórica de Tunga (1952-2016).

    Na crítica das estilistas Carolina Gold e Pitty Taliani, as pessoas estão usando camisas de força. A peça apareceu na passarela com pedaços de alfaiataria desconstruída.

    Quem também segue questionando os padrões da moda é a LAB, grife dos músicos Emicida e Evandro Fióti. Com a ajuda do estilista João Pimenta, eles desmontaram a roupa dos sambistas de gafieira, acrescentando a elas o lado urbano pelo qual a marca a marca é reconhecida.

    As usuais bandeiras contra preconceitos (seja racial, de gênero ou antigordos) apareceram na passarela composta por negros, magros, plus size e andróginos.

    Eduardo Anizelli/Folhapress
    Desfile da LAB durante a 43 edição do São Paulo Fashion Week realizado na Bienal do Parque Ibirapuera em São Paulo, SP.
    Desfile da LAB durante a SPFW

    O samba foi o fio condutor do estudo do trio, que bordou rodas de gafieira e elementos do estilo musical nas jaquetas esportivas, nas bermudas e nas camisetas.

    A música também deu a cara da apresentação da Reserva, grife carioca que retornou à SPFW nesta estação.

    Rony Meisler, defensor de novos perfis para a passarela e de uma moda mais comercial, colocou os convidados no meio de uma festa regada a bebida e notas de MPB. Os modelos, assim como as roupas, eram apenas parte do cenário festeiro criado pela marca.

    A mesma festa que o DJ e dono da boate paulistana The Edge, Renato Ratier, quis imprimir nas roupas de apelo "clubber" e gótico de seu desfile, o primeiro do dia.

    A Romênia serviu de referência para os símbolos místicos que acompanham a cultura cigana, com modelagens arredondadas e jaquetas bordadas com fios de lã.

    Colagens de pentagramas, morcegos e cruzes formaram a imagem horripilante de conde Drácula das pistas.

    No extremo oposto, a grife A. Niemeyer fez a melhor estreia desta São Paulo Fashion Week tomada por neófitos de passarela.

    As estilistas Fernanda Niemeyer e Renata Alhadeff cortaram linho, algodão, seda e lã, principal matéria-prima da coleção, para criar uma imagem de aconchego.

    A lógica desta temporada de simplificar a moda e dar viés comercial às criações, produziu roupas banais e sem emoção. A. Niemeyer provou que é possível ser comercialmente viável e não descambar na vala da inconsistência.

    ORGÂNICO

    A cartela de cores, clara e com pinceladas de tons terrosos, remetia a uma leveza cromática que supre a ausência de grifes como Huis Clos e Maria Bonita, duas das mais relevantes do passado recente da SPFW.

    Um certo tom de natureza permeia a coleção da grife, a mesma que apresentou outra estreante, a Green Co.

    Um dos destaques do projeto Top 5, realizado pelo Sebrae para dar apoio a cinco nomes em ascensão no mercado da moda, a grife do engenheiro ambiental Cassius Pereira colocou diversos fios biodegradáveis em suas propostas.

    Linho, algodão orgânico e "hemp", a fibra da maconha, compuseram os conjuntos de moda casual e esportiva com estampas de folhagens.
    Alguns acessórios foram feitos de materiais reaproveitados. Para os óculos, por exemplo, foram usadas pranchas de skate. Já as mochilas são de câmaras de pneu.
    Tudo como manda a cartilha do exército verde que a marca quer atingir.

    5º DIA DA SPFW
    RATIER regular ★★
    A. NIEMEYER muito bom ★★★★
    GREEN Co. (TOP 5) bom ★★★
    RESERVA bom ★★★
    Amapô bom ★★★
    lab ótimo ★★★★★

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