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    Mostra em Nova York celebra a diversidade da arte de Lygia Pape

    MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
    DE NOVA YORK

    22/03/2017 02h06

    Maurício Cirne/Divulgação
    *** PROJETO LYGIA PAPE*** Lygia Pape (Brazilian, 1927â€"2004) O ovo (The Egg) 1967 Performance at Barra da Tijuca beach, Rio de Janeiro Gelatin silver print Photo by Maurício Cirne / Divulgacao ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    'O Ovo' (1967), performance de Lygia Pape que tem registro na exposição em NY

    "Lygia Pape trabalhou com uma grande variedade de meios, desde escultura, gravura e pintura até instalação, fotografia, performance e cinema; essa é uma característica que a distingue e que está presente na exposição", diz a curadora Iria Candela, enquanto caminhamos pelo andar do Met Breuer onde a brasileira ganhou uma ampla panorâmica de seu trabalho.

    O Met Breuer, que apresenta a mostra até 23/7, é um braço do Metropolitan voltado para arte moderna e contemporânea —e ocupa a antiga sede do Whitney, projetada pelo arquiteto e designer Marcel Breuer, uma lenda da Bauhaus. Pape, segundo sua filha Paula, gostava do prédio e ficaria feliz se pudesse ver suas obras ali expostas.

    "Lygia Pape: Uma Multidão de Formas" é o título dessa primeira exposição americana dedicada à obra da artista de vanguarda que nasceu em Nova Friburgo (RJ), em 1927, e viveu e trabalhou no Rio, onde morreu em 2004.

    Pape faz parte de uma geração de artistas que o crítico Paulo Sérgio Duarte definiu como uma espécie de "Machado coletivo", um grupo que teria representado para a arte brasileira papel análogo ao do autor de "Dom Casmurro" para a literatura.

    Duarte faz referência ao conjunto de experimentações que aconteceram no pós-Guerra, particularmente a partir do início da década de 50, com a absorção do abstracionismo geométrico europeu e sua rica trajetória de aclimatação ao trópico.

    Esse processo, que ocorreu também, com características próprias, em países vizinhos, como Argentina e Uruguai, deixou sua marca de criatividade e concisão no Brasil.

    Lygia Pape foi uma das artistas que levaram adiante esses desdobramentos de maneira original e arrojada.

    Com seus exercícios geométricos iniciais, influenciados pelo vanguardismo russo de Kazimir Malevich, passou pelo concretismo e, a seguir, aderiu ao Manifesto Neoconcreto em 1959.

    TRANSMÍDIA

    Na década de 60, em sintonia com os novos tempos —e na linha de seus colegas Hélio Oiticica e Lygia Clark—, foi em busca de uma arte que queria se abrir para o espaço e interagir com o espectador.

    Também dedicou-se ao cinema, com uma série de filmes curtos, muitos em favelas do Rio, e cartazes, como o que fez para "Vidas Secas", de Nelson Pereira dos Santos. Criou ainda embalagens para os biscoitos Piraquê.

    Candela acredita que Pape foi encorpando ao longo do tempo o projeto de uma "artista-inventora transmídia".

    "Ela resistiu a aderir a um meio ou estilo específico e perseguiu incansavelmente uma imagem político-poética que correria o risco de inventar uma arte além do objeto", afirma a curadora, ressaltando a crescente aproximação entre vida e obra no percurso da artista.

    Dois trabalhos icônicos destacam-se no notável conjunto reunido pela mostra. Na noite de abertura, ninguém ficava indiferente à instalação "Tteia 1 C" (1976-2004), com sua simplicidade imponente construída em planos de fio de ouro que atravessam, iluminados, um espaço em penumbra, cujo fundo não se vê.

    A obra, que arrancou elogios até da ascensorista de um dos elevadores do museu (achou "incrível"), foi um dos destaques da Bienal de Veneza, em 2009, e pode ser vista também em Inhotim.

    A outra grande atração é a performance "Divisor", de 1968, reencenada algumas vezes no Brasil -e também na Espanha, onde Pape ganhou uma exposição no centro Reina Sofía, em 2011.

    Trata-se um extenso lençol branco que encobre pessoas em movimento, deixando-as apenas com as cabeças de fora. A imagem principal da mostra, que recebe, agigantada, os visitantes no quarto andar do Met Breuer é justamente uma foto da versão de "Divisor" realizada com crianças, em 1990, no Museu de Arte Moderna do Rio.

    No sábado, vai ser a vez de Nova York entrar na folia: pela manhã, a performance parte do Met Breuer e percorre as oito quadras que o separam do Metropolitan.

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