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    Crítica

    Museu em Fortaleza abarca diversas vertentes da fotografia

    FABIO CYPRIANO
    ENVIADO ESPECIAL A FORTALEZA

    22/03/2017 02h04

    É comum, na história recente do Brasil, que empresários posem de mecenas benevolentes, mas na realidade usem verbas públicas —por meio de leis de incentivo— para criar uma imagem positiva deles mesmos. São tempos de marketing pessoal, em que o que interessa é a aparência.

    Na contramão dessa tendência, somando-se a outras poucas instituições culturais no país organizadas exclusivamente por fundos privados, foi aberto neste mês o Museu da Fotografia Fortaleza, criado pelos colecionadores Paula e Silvio Frota.

    Há apenas nove anos, eles compraram "Menina Afegã", de Steve McCurry, um dos retratos mais conhecidos da história da fotografia. Desde então, o casal, que já colecionava arte, passou a direcionar suas aquisições, reunindo cerca de 2.000 imagens.

    Foi nesse contexto que eles abriram o museu, por um lado um espaço onde podem ver suas obras, por outro, onde tornam público o acesso a elas. "É nossa responsabilidade como colecionadores", afirmou Silvio Frota.

    O museu ocupa um antigo edifício na capital do Ceará e foi totalmente readequado para as novas funções pelo arquiteto Marcus Novais. Com 2.500 m2 de área, possui três pisos de área expositiva: dois para mostras permanentes, um para temporárias.

    Ivo Mesquita é o curador responsável pelas mostras inaugurais. Ele não buscou tratar de questões técnicas da fotografia, dividindo as mostras em eixos bem amplos, mas que apresentam os destaques da coleção ao mesmo tempo que a relacionam ao contexto.

    Assim, as mostras permanentes, "Um Imaginário de Cidades" e "Jogos de Olhares" reúnem desde clássicos da fotografia internacional, como o francês Henri Cartier-Bresson e o húngaro Robert Capa, ambos fundadores da agência Magnum, passando pelo peruano Martín Chambi e pela norte-americana Dorothea Lange e chegando a contemporâneos como Cindy Sherman. Também não faltam os que se destacam pela produção no Brasil, como Mario Cravo Neto, Claudia Andujar, Rosângela Rennó, Miguel Rio Branco e Gabriel Chaim, este visto em diversas séries de coberturas dos conflitos do Oriente Médio.

    É a mostra temporária, "O Norte e o Nordeste", contudo, que enfrenta a origem do museu, apresentando um amplo panorama de fotógrafos, tanto brasileiros como estrangeiros, que ajudaram a criar o imaginário visual da região.

    É o caso de Pierre Verger, Jean Manzon, Marcel Gautherot, José Medeiros ou Chico Albuquerque, homenageado com uma sala especial de sua série sobre a produção do filme inacabado "É Tudo Verdade" (1942), de Orson Welles.

    Com tudo isso, Mesquita aborda, a partir da coleção, diversas vertentes da produção fotográfica: surrealista, com Man Ray e Fernando Lemos, ou fotojornalística, com Juca Martins, para ficar em alguns exemplos, mas evitando que o novo espaço seja um estranho em seu local de origem.

    O mecenato brasileiro tem tido grande visibilidade no Ceará na última década, e o Museu da Fotografia não foge de seu território de origem.

    O jornalista viajou a convite do Museu da Fotografia Fortaleza

    *

    MUSEU DA FOTOGRAFIA FORTALEZA
    QUANDO: qua. a sab. das 12h às 17h
    ONDE: r. Frederico Borges, 545, Varjota, tel. (85) 3017-3661
    QUANTO: R$ 10

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