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    Análise

    'Trainspotting' original se tornou ícone improvável de era perdida

    IGOR GIELOW
    DE SÃO PAULO

    23/03/2017 02h13

    Divulgação
     T2 Trainspotting [T2 Trainspotting, Reino Unido, 2017], de Danny Boyle (Sony). Gênero: drama. Elenco: Ewan McGregor, Robert Carlyle ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Ewan McGregor e Robert Carlyle em T2 Trainspotting

    De uma época que gritava para se fazer relevante, o "Cool Britannia" dos anos 1990, pouco restou.

    Seu movimento musical de ponta, o britpop, foi sequestrado pelo trabalhismo róseo do então premiê Tony Blair e evaporou junto com ele.

    As pessoas ainda ouvem Oasis, claro, e o Blur até lançou um álbum recentemente, mas o próprio caráter regressivo daquela onda, que olhava para o passado cultural do Reino Unido, tratou de imprimir a ela um certo tom de pastiche.

    É até algo irônico que um dos ícones mais duradouros daqueles anos seja um filme coalhado de subversão institucional, ainda que bem embaladinha para o consumo pop.

    Jovens perdidos falando um inglês incompreensível enquanto transitam num mundo de drogas pesadas, relacionamentos ocos e violência era tudo o que o radiante Reino Unido de 1996 parecia não querer legar.

    Mas "Trainspotting" transcendeu reducionismos. A estética aplicada pelo cineasta Danny Boyle em sua estreia, "Cova Rasa", foi ampliada e adotada pela subcultura clubber –que se mostrou, afinal, perene.

    "Born Slippy", do Underworld, virou hino de pista de dança, camisetas com o grafismo da divulgação do filme se espalharam pelo mundo.

    A influência do "alt-90s" fashionista do longa foi tema da "Vogue" ao comentar coleções para 2016.

    Houve até quem colocasse na conta dos hábitos desregrados dos personagens a subida no consumo de heroína pelos britânicos.

    O opiáceo saiu do gueto e passou a ser a principal causa de morte entre usuários de drogas no país após o filme.

    Isso tudo configura um fenômeno que era meio insondável no começo de 1996.

    O texto que apresentou o filme no caderno "Ilustrada" naquele ano, escrito por este repórter enquanto correspondente em Londres desta Folha, tentava enquadrá-lo como um "Kids britânico".

    O polêmico filme norte-americano, lançado em 1995, passava por temática semelhante e havia feito considerável barulho.

    Mais de 20 anos depois, Danny Boyle está na pista. Alguém fala de Larry Clark (dica: é o diretor de "Kids")?

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