• Ilustrada

    Monday, 06-May-2024 16:49:51 -03

    Crítica

    Sequência de 'Trainspotting' supera a média

    RICARDO CALIL
    CRÍTICO DA FOLHA

    23/03/2017 02h11

    Divulgação
     T2 Trainspotting [T2 Trainspotting, Reino Unido, 2017], de Danny Boyle (Sony). Gênero: drama. Elenco: Ewan McGregor, Robert Carlyle ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Ewan McGregor (esq.) foge de Robert Carlyle em cena de 'T2'

    Na cena essencial de "T2 Trainspotting", Renton (Ewan McGregor), Sick Boy (Jonny Lee Miller) e Spud (Ewen Bremner) vão visitar o local onde está enterrado um amigo que morreu 20 anos antes.

    Em meio a uma discussão sobre erros do passado, Sick Boy diz a Renton: "Nostalgia: é por isso que você está aqui. Você é um turista em sua própria juventude".

    O motivo para ver "T2" não é diferente: nostalgia. Pela juventude e por "Trainspotting" (1996) –entidades que se confundiam duas décadas atrás, algo que talvez não seja compreendido por quem era novo ou velho demais à época.

    O filme e sua trilha sonora refletiram, definiram e inventaram uma certa juventude dos anos 1990 (a outra é filha do Nirvana), com seu hedonismo desesperançado, drogas sintetizadas ou não, música eletrônica e britpop.

    Mas "Trainspotting" é um obscuro objeto da nostalgia: seus protagonistas eram cheios de som e fúria, mas perderam amigos e filhos pelo vício em heroína, brigaram, roubaram e traíram uns aos outros.

    Por isso, "T2" tem a sabedoria de não ser nostálgico, mas sim um filme sobre a nostalgia, com plena consciência sobre as dores e as ironias da passagem do tempo.

    No final do original, Renton foge de Edimburgo rumo a Londres furtando o dinheiro do assalto que cometeu com os amigos Sick Boy, Spud e Begbie (Robert Carlyle).

    Em "T2", Renton retorna à Escócia quando a mãe morre. Lá reencontra Spud, ainda às voltas com o vício em heroína, e Sick Boy, que sobrevive chantageando pessoas com vídeos comprometedores.

    Com a ajuda de Veronika (Anjela Nedyalkova), namorada de Sick Boy, os três voltam a se unir para tentar ganhar dinheiro fácil, dessa vez abrindo um puteiro.

    O plano é atrapalhado pelo irascível Begbie, que foge da prisão e quer se vingar de Renton pelo dinheiro furtado 20 anos antes.

    PRESENTE

    Na sua primeira metade, "T2" é um filme de personagens (e plenamente satisfatório): nós vemos nossos queridos anti-heróis tentando dar conta de suas vidas melancólicas no presente, enquanto reencontramos o seu (e o nosso) passado em rápidas cenas do filme original.

    Nesse momento, o diretor britânico Danny Boyle entrega o melhor do seu estilo, baseado em um certo barroquismo visual, no uso esperto da trilha e no humor cínico.

    Funcionam melhor em "T1" e "T2" do que em qualquer outro de seus filmes (como "Quem Quer Ser um Milionário?" e "127 Horas").

    Na segunda metade, porém, "T2" se torna um filme de trama (e bem menos interessante): o diretor cede às convenções narrativas e tenta criar suspense e drama com a vingança de Begbie, sem muito sucesso.

    Ainda assim, o longa de Boyle é uma sequência muito superior à média, justamente porque reflete sobre a nostalgia sem se ceder a ela.

    Como Renton, Sick Boy, Spud e Begbie percebem em "T2", nós não podemos nos livrar do passado e, ao mesmo tempo, nunca poderemos retornar a ele.

    *

    T2 TRAINSPOTTING
    QUANDO: em cartaz
    ELENCO: Ewan Mcgregor, Ewen Bremner, Robert Carlyle
    PRODUÇÃO: Reino Unido, 2017, 16 anos
    DIREÇÃO: Danny Boyle

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024