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    Mais maduros, 'Power Rangers' perdem a cafonice

    CHICO FELITTI
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,

    26/03/2017 03h13

    Divulgação
    Power Rangers não usam mais laicra em novo filme
    Power Rangers não usam mais laicra em novo filme

    É hora de morfar: como transformar uma série televisiva de super-heróis dos anos 1990 numa aposta de blockbuster após duas décadas?

    Esse é o desafio de "Power Rangers". Spoiler: o filme consegue, mas perde no processo de adaptação sua cafonice.

    A começar pelo visual dos guerreiros. Sai a laicra colorida em que eles se espremiam e entram armaduras tecnológicas, como se o Homem de Ferro tivesse passado na manicure antes de defender o mundo. O salto estético, entretanto, é fichinha perto da mudança narrativa.

    Os heróis, antes uns mocorongos que pareciam mais ter 12 anos do que 17, agora se digladiam com questões como doença mental, morte, desajuste sexual e consciência da própria podridão.

    O drama não é um monstrengo feito de espuma prestes a destruir uma maquete de papelão de Alameda dos Anjos. O maior dilema no longa é ser jovem e aprender a estar confortável consigo mesmo.

    A diversidade étnica que já estava presente 20 anos atrás é explicitada e vira motivo de (boas) piadas entre os moleques, que alinhados parecem um anúncio da Benetton –um é branco, outro é asiático, há uma latina, um negro e uma meio curinga, que poderia ser qualquer um desses grupos.

    Outro aspecto em que as duas décadas saltam aos olhos é o apuro técnico. Com uma fotografia caprichada, o filme dá uma surra nas cenas da série, que pareciam filmadas com uma câmera caseira.

    As sequências de ação falam a linguagem atual do gênero, com deslocamentos nervosos do ponto de vista e cenas em câmera lenta que parecem saídas de um clipe.

    A passagem do tempo também foi generosa com a vilã Rita Repulsa. Se na versão original a malfeitora parecia uma Sabrina Sato vestindo as roupas da bruxa Morgana, de "Castelo Rá-Tim-Bum", em 2017 ela virou um misto de menina Samara (a que sai do poço em "O Chamado") com Gracyanne Barbosa. Mais maldade, mais pele à mostra, mais glúteos. Sinal dos tempos.

    Mas toda essa evolução é soterrada pela meia hora final da película. Nos minutos derradeiros, há um resgate delicioso da cafonice que fez da franquia uma marca mundial, com direito ao robozão Megazord trocando tapas com uma criatura titânica feito de ouro e um final moralizante.

    Porque as roupas dessa trupe podem ter mudado com o tempo, mas seu recheio ainda é o mesmo: bom-mocismo americano para as massas.

    *

    POWER RANGERS
    DIREÇÃO: Dean Israelite
    ELENCO: Dacre Montgomery, Naomi Scott, Elizabeth Banks
    PRODUÇÃO: EUA, 2017, 10 anos
    QUANDO: Em cartaz

    Edição impressa

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