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    Para Fernanda Lima, didatismo explica sucesso de 'Amor & Sexo'

    LÍGIA MESQUITA
    EDITORA-ADJUNTA DE CULTURA

    26/03/2017 02h54

    Fernanda Lima, 39, está "exausta" e com a voz um pouco rouca. No dia anterior, havia gravado o último "Amor & Sexo" (Globo) desta temporada, a décima da atração sobre sexo e comportamento, que vai ao ar por três meses.

    Todo ano, quando termina a temporada do produto que criou ao lado do amigo e empresário Antonio Amancio, com quem assina a redação final, jura que será a última.

    Em 2016, garantiu à Folha que era. E voltou. "A Globo sempre quer mais, a questão sou eu. É um processo criativo que me exaure. Todo ano me questiono se tenho condições emocionais para outra. E não há", diz, por telefone.

    Divulgação
    Fernanda Lima no programa 'Amor & Sexo
    Fernanda Lima no programa 'Amor & Sexo'

    E muda de ideia, afirma, ao começar a ver os resultados.

    Nesta temporada, confessa ter pensado que não havia mais o que dizer e nem como passar sua mensagem sem fazer gracinha o tempo todo nem ser "sisuda" demais. Aí optou pelo didatismo.

    "Falei: Gente, chega de brincadeira! Se não tiver como brincar, não vamos. Não tá com clima pra brincar."

    Essa escolha por um tom mais educativo, com temas abordados, diz, como se estivessem sendo "explicados a uma criança de sete anos", como ao tratar de gêneros, gerou a temporada mais compreendida de todas, segundo a gaúcha. "Quando a gente é didático, tatibitate como foi, conseguiu ser compreendido. Aí deu esse barulho."

    "Amor & Sexo", que ainda tem mais três edições a ir ao ar, abordou, entre outros temas, feminismo, machismo e o universo LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros).

    Os mais entusiastas têm afirmado que o programa é atualmente "o melhor da TV".

    O burburinho, entretanto, não resultou em maior audiência. A temporada mantém a mesma média da anterior, quando foi ao ar aos sábados, e tem um ponto a mais do que a 8ª, exibida também às quintas: 15 pontos no Ibope da Grande SP (cada ponto equivale a 199,3 mil espectadores).

    AME OU ODEIE

    O programa de estreia, em janeiro, sobre feminismo, gerou muitos "textões". Algumas mulheres elogiaram o fato de o tema ganhar destaque na Globo. Outras criticaram a superficialidade e as brincadeiras –uma personagem inventada para falar de clitóris e o humorista Eduardo Sterblitch levando choque ao errar respostas em quiz.

    Já o caráter didático do programa desagradou alguns críticos. O colunista da Folha Mauricio Stycer escreveu que a atração lembrava um telecurso. Fernanda diz que comprou a provocação da crítica e passou a adotar o termo, exibindo o "telecurso do gênero" na edição LGBT.

    Nesta temporada, que chama de "a mais madura", Fernanda fez questão de explicar não faz imposições. "Ninguém está dizendo aqui que meninos têm que virar menina e vice-versa. A gente acredita que cada pessoa tem que ter a liberdade de ser o que ela é", disse no ar.

    Sobre voltar em 2018, afirma, novamente, que não há possibilidade. "Preciso descansar, me reciclar, entender que caminhos posso percorrer nessa temática." Em julho, ela volta com o reality "Popstar".

    *

    O programa não corria o risco de ficar chato sendo didático? Houve críticas à edição do feminismo, que teria sido rasa...

    O didatismo foi nosso norte. A gente tem que partir do princípio que as pessoas não sabem o que está acontecendo, tirando as que convivem com a diversidade. Parti do princípio: "Explica como se eu fosse uma criança de sete anos".

    Muita gente acha que o feminismo é igual ao machismo, a gente entende que muitos não sabem o que é feminismo. Como começar um assunto sem que a pessoa saiba do que está falando? São assuntos delicados quando se está falando para a maioria da população que não tem tanto acesso, quando se fala de analfabetos funcionais, a gente sabe com quem fala, é o Brasil profundo.

    Este momento atual, mais conservador, contribuiu para a maior repercussão?

    Acho que sim. Há urgência em debater as questões novas. O programa ocupou espaço num momento de muita ebulição. A gente poderia ter sido mais raso? Poderia. Mais profundo? Poderia. Mas ficamos ali equilibrando pratinho, fazendo um programa de TV, não é um seminário. A minha vitória é que no salão de beleza, no outro dia, esteja se falando desse assunto; é minha empregada falar "como aprendi". É saber que a central de atendimento à mulher em situação de violência recebeu o triplo de ligações. Falem o que quiser, metam o pau, mas a vitória, pra mim, tá nisso.

    Fala-se que o telespectador é conservador. É preciso estimular o debate sobre temas com os quais ele não concorde?

    Sim. Quando você consegue estabelecer um diálogo sobre um assunto difícil com uma criança e se faz entender, por que não com um cara que mal sabe escrever o nome? Se você for amoroso, cuidadoso, dá para explicar qualquer coisa. Acredito que o telespectador esteja absolutamente aberto.

    Mas aí uma novela ["Babilônia"] bota duas senhoras se beijando e é boicotada...

    Mas eram duas mulheres idosas. Se fossem meninas não teria tido essa repercussão. Era a Fernanda Montenegro, uma entidade. O nosso programa LGBT foi forte, difícil, aí vejo minha mãe mandando mensagem:"Foi sensacional". Aí eu falo: "Opa!"

    Sua família é conservadora?

    Super, sem nenhuma intimidade com diversidade, preconceituosa. Quando minha mãe fala que as pessoas estão ligando pra ela, sei que funcionou.

    A Globo te pauta? Por exemplo, pediu para falar de trans, que será tema em uma novela?

    Nunca. Eu não falo com a Globo durante um ano. Apresento os temas antes de gravar. Temos carta branca.

    Tem vontade de criar outro programa, fazer algo novo?

    O sucesso é uma coisa complicada, infelizmente. Não me imagino fazendo nada melhor do que já fiz. Isso me assusta. Durmo tranquila porque realizei algo que me desse orgulho e paz. Não tenho que provar mais nada.

    NA TV

    Amor & Sexo

    Quando às quintas, na faixa das 23h, na Globo

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